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A revolução silenciosa dos pagamentos em Angola

André Samuel
5/12/2025
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Foto:
Arquivo e DR

Esta aceleração digital tem um reverso: o declínio terminal dos instrumentos em papel.

O dinheiro vivo, outrora rei incontestável das transacções em Angola, vê o seu reinado a chegar ao fim. Uma revolução silenciosa, liderada pelo Banco Nacional de Angola (BNA), está a redesenhar o panorama financeiro do país. Dados oficiais do Relatório do Sistema de Pagamentos de Angola - 2023 e estatísticas actualizadas até Setembro de 2025 contam a história de uma transição digital em aceleração, impulsionada pelas estratégias do banco central e pela adopção massiva pelos cidadãos.


O presente é dominado pelo Sistema Multicaixa (MCX). De acordo com a Estatística SPA de Setembro de 2025, apenas nos primeiros nove meses do ano, o MCX processou espantosos 1,9 mil milhões de operações, movimentando cerca de 27,4 biliões de Kz, um valor que já representa cerca de 93% do total movimentado em todo o ano de 2024. O cartão de pagamento tornou-se ubíquo, mas a grande mudança de comportamento está na palma da mão. O Relatório do SPA de 2023 revela que, pela primeira vez, as operações via Multicaixa Express superaram as realizadas em terminais físicos, representando 37,95% do total.
“Estamos a testemunhar uma migração massiva e irreversível do físico para o digital”, analisa um operador do sector. “O consumidor angolano mostrou-se ávido pela conveniência dos pagamentos digitais.”


Paralelamente, uma estrela nasceu com estrondo: o sistema de transferências instantâneas KWIK. Segundo o mesmo relatório de 2023, o KWIK foi lançado em Outubro e, nos primeiros três meses, processou 18.547 operações. Contudo, os dados mais recentes, de Setembro de 2025, mostram que esse número disparou para 18,7 milhões de operações acumuladas no ano, um crescimento exponencial que demonstra a procura por velocidade e simplicidade.


No topo da pirâmide, o Sistema de Pagamentos em Tempo Real (SPTR), a espinha dorsal para transacções de alto valor, continua a crescer. Conforme o Relatório de 2023, o montante transaccionado no SPTR cresceu 96,91% face a 2022, assegurando a estabilidade do sistema financeiro.


O passado: O declínio do papel e o arranque tímido
Esta aceleração digital tem um reverso: o declínio terminal dos instrumentos em papel. O cheque, outrora símbolo de solvabilidade, está em queda livre. O Relatório do SPA de 2023 regista uma queda de 46,05% no número de cheques compensados. Perante isto, o BNA agiu. Conforme divulgado no mesmo documento, o banco central decretou o seu exit gradual: fim da emissão a 31 de Dezembro de 2024.


Outro sistema, o de Débitos Directos (SDD), destinado a pagamentos recorrentes, teve um arranque extremamente tímido. O Relatório de 2023 indica que só naquele ano, com a imposição regulatória do BNA, é que o SDD começou a ganhar tracção, partindo de uma base de 543 operações. Até Setembro de 2025, segundo a estatística mais recente, contava com 5.293 operações.


Oportunidades e Alertas para o Mercado
Para o cidadão, as oportunidades são claras: mais conveniência, mais escolha e, potencialmente, custos mais baixos. No entanto, a Visão Estratégica 2024-2028 alerta para os riscos, identificando a “cibersegurança” como factor crítico.


Para os operadores, o futuro é de disrupção. A chegada do Open Banking vai fomentar a concorrência, obrigando os agentes tradicionais a inovar. A meta do BNA, estabelecida na sua Visão Estratégica, é alcançar 75% de inclusão financeira, massificando soluções simples, como as baseadas em comandos de telemóvel (USSD).
A transformação do sistema de pagamentos angolano é, assim, muito mais do que uma questão tecnológica. É um projecto estratégico, bem documentado nos relatórios do BNA, para modernizar a economia e empoderar financeiramente os cidadãos. O caminho está a ser traçado, e os trilhos, segundo os dados, já estão a ser percorridos a alta velocidade.