O intenso trabalho da instituição no empoderamento feminino esteve em destaque no Gordon’s Pink Day, no passado dia 3 de Março. Maria Zita Viegas recebeu o reconhecimento da Diageo, promotora do evento, em representação das mulheres que fizeram e fazem a FMEA.
No discurso de agradecimento pela homenagem à FMEA durante o Gordon’s Pink Day, Maria Zita Viegas deixou bem claro: “este é um prémio para a Federação, para todas as mulheres que fazem parte da instituição e que têm dado o seu contributo ao longo desses 22 anos em prol do desenvolvimento económico do país.” Na cerimónia em que a Diageo, a maior empresa de bebidas a nível mundial, e distribuída oficialmente em Angola pela Refriango, reconheceu dez mulheres angolanas, a coordenadora nacional da FMEA para a área agro-pecuária era a cara e a voz de milhares de empreendedoras de todo o país, unidas pela sororidade e vontade de superação.
Nas últimas décadas, o trabalho da FMEA tem sido intenso. Na verdade, a origem da federação remonta muito antes da sua criação, em Novembro de 2001. “Tudo começou com a primeira Associação de Mulheres Empresárias de Luanda (ASSOMEL), que criámos em 1990”, explica Maria Zita Viegas. “Com o tempo, fomos apoiando o surgimento de associações similares nas restantes províncias, congregando-as todas numa única organização capaz de representá-las e defendê-las junto aos órgãos públicos e privados, e que pudesse prestar-lhes serviços com vista ao seu empoderamento económico e desenvolvimento sustentável”.
Vinte e dois anos depois, a FMEA reúne as dezoito associações provinciais de mulheres empresárias e empreendedoras. “Damos apoio em todos os ramos da actividade: desde a agricultura à pesca, passando pela construção civil, confecções, saúde, educação, comércio, hotelaria, transformação de produtos ou em qualquer área em que a associada mostre interesse em empreender”, explica.
Para além do trabalho com estas associações, a FMEA também apoia o sector informal na sua reconversão, e ajuda à criação de cooperativas sectoriais, tendo nesse momento mais de 30 cooperativas constituídas e outras em fase de constituição.
Entre os milhares de iniciativas das últimas duas décadas, “são muitos os casos de sucesso que envolvem o sector formal e informal”, indica Maria Zita Viegas, que destaca exemplos como “os negócios bem-sucedidos de mulheres nas áreas agrícolas, em pequenas indústrias ou cooperativas, como é o caso da cooperativa de pesca da província do Namibe, criada por empreendedoras”.
Vinte e dois anos depois, a FMEA reúne as dezoito associações provinciais de mulheres empresárias e empreendedoras. “Damos apoio em todos os ramos da actividade: desde a agricultura à pesca, passando pela construção civil, confecções, saúde, educação, comércio, hotelaria, transformação de produtos ou em qualquer área em que a associada mostre interesse em empreender”, explica.
Um outro exemplo, refere, são “os Bancos Comunitários, uma experiência piloto que a FMEA implementou em cinco províncias” e com os quais “conseguiu tirar senhoras do informal para o formal através da formação em gestão e literacia financeira”. Nestes bancos, “as interessadas faziam poupanças semanais para desenvolver os seus negócios. O mesmo projecto foi aplicado ao sector formal, criando a Banca Rural.” O PNUD, FAO, embaixadas e instituições do estado apoiaram estes projectos que seriam suspendidos durante a pandemia. A FMEA tem a intenção de os reactivar tão logo for possível.
A formação, comenta ainda responsável, é outra área importante na FMEA. “Proporcionamos às nossas associadas informações em primeira mão, contactos e networking e direccionamo-las para capacitações em gestão de negócios, produtos financeiros e outros temas relevantes. Também participamos em fóruns económicos, workshops, feiras internacionais, entre outros”, descreve.
No conjunto, resume Maria Zita Viegas, “as iniciativas da FMEA e os projectos que apoia visam sempre ter um impacto significativo na luta contra a fome e a pobreza no país, não só através de acções no campo e iniciativas de auto-emprego que sustentam muitas famílias, mas também pela criação de fontes de rendimentos para as empreendedoras e pelo fomento da distribuição igualitária de renda entre homens e mulheres, um tema em que ainda temos muito que trabalhar no nosso país”.
De mulher para mulher
Na FMEA há um lado que vai muito mais além da função institucional. “A amizade com as nossas empreendedoras é muito importante para nós. Às vezes, estas mulheres precisam de uma opinião ou de uma palavra reconfortante quando as coisas não correm tão bem ou têm algum problema pessoal. Nós damos-lhes esse apoio moral, incentivamo-las a não desistir”, comenta.
Na base desta relação, está “um sonho em comum”. “É interessante constatar que o objectivo de todas estas empreendedoras, sem importar a classe social, raça, cor ou religião, é sempre o mesmo: dar aos filhos uma vida melhor do que a que tiveram. Não ambicionam ser ricas, elas lutam por um objectivo colectivo, pelas suas famílias, sempre com os olhos no futuro”.
Com este anseio, sublinha Maria Zita Viegas, “as mulheres angolanas aplicam nos negócios que criam todas as habilidades em empreendedorismo que desenvolvem no dia-a-dia como mães e esposas”. “Elas são o pilar da família, e todos os dias tentam equilibrar os recursos disponíveis com sabedoria e disciplina. Aprendem desde cedo a serem obstinadas e decididas, a saber onde querem chegar e a serem muito responsáveis e resilientes. Estas qualidades são fundamentais para qualquer empreendedor superar as dificuldades estruturais do país e, no caso das mulheres, a fintarem as barreiras adicionais próprias de uma sociedade machista."
E que barreiras são essas? “Muitas”, exclama Maria Zita Viegas. E dá exemplos. “Regra geral, as mulheres são muito mais honradas do que os homens no pagamento de empréstimos bancários. A capacidade que a mulher tem em gerir o seu negócio e conciliá-lo com as actividades cotidianas é enorme. Estão empoderadas. Para muitos homens, estas questões são complicadas, porque não aceitam essa igualdade e equidade de género”.
Ainda assim, “elas resistem e avançam”. “Motiva-as o sonho”, repete Maria Zita Viegas. “Para se empreender em projectos com pernas para andar também é preciso sonhar. As pessoas que sonham acordadas avançam ao mesmo tempo, com passos seguros”, defende.
É por este sonho que a FMEA avança, também. A covid-19 causou impasses importantes. “Perdemos algumas associadas e membros da federação durante a pandemia e por isso alguns projectos ficaram parados”. Neste momento, a instituição está a reestruturar-se e a organizar-se para poder retomar o fôlego com força, pelo empreendedorismo feminino que muda vidas.