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A proteção cibernética no sector de petróleo e Gás e sua aplicação estratégica no contexto angolano

José Pedro
8/9/2025
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O panorama global da cibersegurança em ambientes OT revela uma crescente vulnerabilidade. Em 2022, estima-se que 83% das empresas enfrentaram múltiplas violações de dados nesses ambientes.

A indústria do petróleo e gás representa um pilar essencial da economia mundial. Com o avanço da digitalização, a segurança cibernética tornou-se uma prioridade crítica para a protecção dessas infra-estruturas.

Instalações como refinarias, oleodutos e plataformas de exploração estão cada vez mais integradas por tecnologias digitais, incluindo dispositivos IoT. Embora essa conectividade traga ganhos operacionais significativos, amplia também a superfície de exposição a ataques cibernéticos, capazes de comprometer dados sensíveis, paralisar operações ou provocar danos físicos.

Dado que as ameaças digitais transcendem fronteiras geográficas, torna-se indispensável uma articulação internacional entre países produtores, empresas tecnológicas e organismos multilaterais. Essa colaboração deve focar-se na troca de informações estratégicas e na coordenação de respostas eficazes face aos riscos emergentes.

O sector atravessa uma fase de profunda transformação, marcada por descobertas relevantes e avanços tecnológicos que redefiniram o cenário global. Novas metodologias e soluções digitais têm viabilizado a exploração de campos antes inacessíveis, promovendo ganhos de eficiência e redução de custos operacionais. No entanto, esta evolução intensificou os riscos cibernéticos, que hoje representam uma preocupação transversal a nível global.

Em Angola, o sector petrolífero desempenha um papel estratégico nas finanças públicas e no desenvolvimento económico regional. A digitalização crescente das operações na Zona Económica Especial de Cabinda, nas plataformas offshore do Bloco 0 e nos terminais da FESA evidencia a urgência de:

  • Implementar políticas nacionais de cibersegurança alinhadas com padrões internacionais reconhecidos;
  • Estabelecer regulamentações claras para operadores e fornecedores de tecnologia;
  • Promover programas contínuos de capacitação em segurança de redes OT/ICS.

A articulação entre a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG) e as concessionárias como a Sonangol e parceiros internacionais é essencial para elevar o grau de maturidade cibernética nas infra-estruturas industriais.

Para enfrentar os desafios emergentes, a indústria deve manter-se ágil, adaptando-se às novas tecnologias e às estratégias de agentes maliciosos. Investimentos consistentes em investigação e desenvolvimento serão determinantes para antecipar e neutralizar ameaças futuras.

Ameaças e Impactos no Cenário Global

Como componente essencial da infra-estrutura crítica nacional, o sector de petróleo e gás torna-se um alvo estratégico. Os impactos de um ataque bem-sucedido podem ser severos, com potencial para desencadear efeitos colaterais em cadeias produtivas adjacentes. O aumento expressivo de incidentes envolvendo ransomware direccionado a dispositivos IoT evidencia a urgência de implementar medidas de protecção cibernética mais robustas e proactivas.

A intensificação dos ataques, impulsionada pela rápida evolução tecnológica, configura uma ameaça dominante. À medida que cresce a dependência de sistemas digitais, aumenta também a vulnerabilidade das organizações. Este cenário é crítico para os sectores de infra-estrutura essencial, cujas operações complexas e lacunas em medidas de protecção os tornam alvos preferenciais.

Dados recentes apontam que, apenas em 2022, houve um crescimento de 28% na incidência de ataques a nível global. Esta tendência manteve-se ascendente em 2023, sem sinais de desaceleração. Em paralelo, a escassez de profissionais especializados e a lentidão na actualização de marcos regulatórios expõem ainda mais as indústrias críticas, de acordo com a Cyber Security Report 2023 – Check Point Software Technologies

Estes ataques podem levar a perdas financeiras, danos à reputação e interrupção das operações. Estima-se que o custo global de crimes cibernéticos dispare de 8,44 trilhões de dólares em 2022 para 23,84 trilhões de dólares até 2027.

A Vulnerabilidade dos Sistemas Industriais (ICS/OT)

As indústrias modernas enfrentam vulnerabilidades crescentes, especialmente devido à interconectividade e complexidade dos dispositivos que compõem os Sistemas de Controlo Industrial (ICS) e a Tecnologia Operacional (OT). Esta arquitetura integrada expõe as organizações a brechas exploráveis.

Os sistemas ICS/OT combinam componentes físicos e digitais para automatizar e gerir processos industriais essenciais. A sua relevância reside no facto de que qualquer interrupção pode gerar consequências graves, incluindo perdas humanas, impactos ambientais e prejuízos económicos significativos.

O panorama global da cibersegurança em ambientes OT revela uma crescente vulnerabilidade. Em 2022, estima-se que 83% das empresas enfrentaram múltiplas violações de dados nesses ambientes. Em 2023, cerca de 25% das ameaças identificadas contra sistemas ICS foram classificadas como críticas. 

Como reflexo directo, 60% das organizações optaram por reajustar os preços dos seus produtos ou serviços, repassando os custos aos consumidores, segundo o IBM Cost of a Data Breach Report (2022) e o SANS ICS/OT Cybersecurity Survey (2023).

A indústria de óleo e gás ocupou a terceira posição entre os sectores mais visados por ataques em ambientes OT em 2022, de acordo com a IBM XForce em 2023.

Motivações e Casos de Estudo

As infra-estruturas energéticas têm sido alvo recorrente. Segundo o Tenable 2022 Threat Landscape Report, registaram-se 35 incidentes graves nos últimos cinco anos. Os ataques de ransomware, em particular, cresceram 150% no último ano.

As motivações são predominantemente financeiras: cerca de 78% visam lucro indevido, enquanto os demais 22% estão ligados à espionagem industrial. Fonte: Data Breach Investigations Report, Verizon, 2022

Diversos incidentes ilustram a gravidade da ameaça:

  • 2017: O malware “Triton” atacou os sistemas de segurança da Saudi Aramco, com potencial para desactivar mecanismos críticos de prevenção de acidentes.
  • 2017: O ransomware WannaCry afectou mais de 100 mil organizações, incluindo a Petrobras.
  • 2019: O ransomware Ryuk impactou as operações downstream da ExxonMobil.
  • 2021: Ataque à Colonial Pipeline paralisou a maior rede de oleodutos dos EUA.
  • 2023: A Suncor Energy e a Shell foram alvo de ataques de ransomware, afectando sistemas de pagamento e resultando em acesso não autorizado a dados. Fontes: Davis, 2022; CISO Advisor, 2023

Conclusão e Recomendações Estratégicas

Perante a escalada de ataques, os investimentos em segurança digital tornaram-se indispensáveis. A adopção de medidas robustas é essencial para mitigar riscos e evitar prejuízos operacionais e reputacionais. No entanto, persistem desafios: apenas 43% dos profissionais da indústria afirmaram que suas organizações implementam melhorias após incidentes, um índice inferior à média global de 52%, de acordo com o Trend Micro – O&G Survey

Investir em cibersegurança deixou de ser uma postura meramente defensiva; é, hoje, um vector estratégico de eficiência operacional, continuidade dos negócios e retorno tangível sobre o investimento. A indústria deve adoptar uma postura proactiva, integrando segurança desde o desenho das operações até à governança institucional.

Essas iniciativas promovem avanços concretos:

  • Mitigação de riscos e redução de custos com seguros: O fortalecimento da segurança contribui para a diminuição da classificação de risco e dos prémios de seguros.
  • Minimização de perdas operacionais: É uma medida preventiva de alto impacto, considerando que uma única interrupção não planeada pode ultrapassar US$10 milhões em prejuízos.
  • Integração inteligente entre OT e TI: A convergência das soluções de segurança operacional com as ferramentas de TI existentes reduz a complexidade e a superfície de ataque.

Em conclusão, a cibersegurança tornou-se um pilar estrutural que sustenta, protege e viabiliza o crescimento dos negócios. É parte integrante da resiliência organizacional, da continuidade operacional e da confiança institucional, actuando como base para inovação segura e competitividade sustentável.