Numa economia mundial fortemente interligada, a forma como os países são percepcionados pelos mercados financeiros influencia decisivamente as suas oportunidades de crescimento, acesso ao crédito e capacidade de atrair investimento. Esta reputação deixou de assentar apenas nos fundamentos económicos internos. Hoje, é moldada também por avaliações externas especializadas, que funcionam como um selo de confiança ou desconfiança perante investidores e credores.
Neste cenário, as agências de rating assumem um papel determinante. Atribuem classificações de risco que reflectem a capacidade de um Estado, empresa ou instituição cumprir com as suas obrigações financeiras. No caso dos países, o chamado rating soberano actua como uma referência global para a análise de risco, influenciando directamente os juros cobrados pelos mercados e a quantidade de investimento que o país pode captar.
África tem 54 países e mais de 1,4 mil milhões de habitantes. É um continente marcado por uma diversidade económica significativa e distintos níveis de desenvolvimento, que precisa de dispor de instrumentos próprios de avaliação de risco que reflictam com rigor e sensibilidade as realidades locais.
No entanto, a esmagadora maioria dos países africanos continua dependente de apenas três agências internacionais – Moody’s, Fitch e Standard & Poor’s –, todas sediadas nos Estados Unidos da América. Estas entidades utilizam metodologias uniformes que, apesar da sua aceitação global, tendem a ignorar nuances importantes das economias africanas, como trajectórias de reformas, informalidade estruturada ou a resiliência das redes económicas locais. Como resultado, muitos Estados são classificados de forma inferior à sua real capacidade de solvência, o que agrava os custos de financiamento e limita o espaço de manobra política.
É neste contexto que a criação de uma Agência de Rating Africana (ARA) se apresenta como uma solução estratégica. Composta por especialistas do continente e voltada para a leitura contextualizada da realidade africana, a ARA permitiria romper com esta dependência analítica externa. O seu propósito não seria substituir as métricas internacionais, mas complementá-las com modelos mais sensíveis às especificidades locais, promovendo uma representação mais justa do risco e do potencial económico de África.
A missão da ARA seria produzir avaliações independentes, técnicas e transparentes sobre a qualidade de crédito de países, empresas e instituições africanas, que contribuiriam para melhorar a credibilidade externa, reduzir distorções de percepção, baixar o custo do crédito e reforçar a confiança nos mercados regionais. A ARA teria também um papel formativo relevante de quadros locais em matérias como finanças públicas, contabilidade e relato financeiro, promovendo maior alinhamento com normas como as IFRS/IAS.
A sua implementação deverá seguir uma abordagem gradual. Poderá começar por zonas económicas regionais, como a SADC ou a CEDEAO, explorando afinidades linguísticas, jurídicas ou institucionais, e evoluir para um modelo de cobertura continental. Esta estratégia permitiria testar metodologias, consolidar confiança institucional e responder de forma eficaz à diversidade de contextos nacionais.
A ARA terá de ser encarada pelos países africanos como um mecanismo de soberania económica, que permitira ao continente avaliar-se com base em critérios próprios, sem abdicar da exigência nem do rigor. África precisa de ferramentas que reflictam a sua realidade com justiça, profundidade e competência técnica, numa era em que a narrativa influencia o investimento, e onde a percepção de risco define quem pode crescer ou estagnar.

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