O AgroSummit, evento promovido nesta quarta-feira, 25, pela Max, sob organização da AgriHeroes, juntou vários especialistas do sector agroalimentar, entre produtores, empresários, decisores políticos e peritos nacionais e internacionais, para debater os grandes desafios e oportunidades da produção nacional, programas de financiamento, certificação em boas práticas agrícolas e exportação.
A contar para a sua 1.ª edição, o evento contou com painéis temáticos moderados pelo jornalista e economista Carlos Rosado de Carvalho, momentos de networking e partilha de experiências, além do lançamento oficial da marca “Clube de Produtores Maxi”, que substitui a anterior “Fazenda Maxi”.
De acordo com Bernardo Ribeiro, responsável de desenvolvimento de negócios da Teixeira Duarte Distribuição, trata-se de um programa contínuo de apoio, onde se oferece know-how, transportes e trabalha-se de forma muito próxima com a produção nacional.
“Portanto, aqui os principais desafios que discutimos têm a ver com acesso a melhorias de produção, acesso a financiamentos e a insumos agrícolas. Falamos de vias logísticas, mas também de condições de armazenagem - todo um conjunto de temas que são cruciais para o desenvolvimento deste sector”, explica o responsável.
Para justificar a necessidade de se ter todos os intervenientes da cadeia de valor no mesmo espaço de debate, Bernardo Ribeiro refere que isoladamente não se consegue agregar valor para levar um produto de forma “mais competitiva - acessível”, a um preço justo e com qualidade até ao consumidor final.
“É bom que as pessoas tenham este tipo de encontros, são debates de networking, onde todos os intervenientes estão em contacto, têm acesso a decisores, entre entidades públicas e privadas. Acho que é para isso um excelente espaço para debate, troca de ideias e partilha de experiências”, reforça o responsável.
Angola tem condições de excelência para produção agrícola
À Economia e Mercado (E&M), Bernardo Ribeiro explica que Angola, a nível do sector primário, tem condições de excelência para produção agrícola, apontando as frutas tropicais como produtos com potencial de exportação.
“É mostrar aquilo que o País tem como potencial para conseguir atrair players estrangeiros a investirem e, ao mesmo tempo, capacitar com o know-how os produtores nacionais para melhorarem as técnicas de produção, de modos a garantirem que a actividade é rentável e que é possível ter empresas agrícolas funcionais, que entreguem efetivamente resultados e sejam rentáveis”, acrescenta.
No fundo, como refere o responsável, é ter uma produção que consegue assegurar uma entrega contínua de produtos ao mercado.
Para o empresário Adérito Areia, que aponta como fundamental a existência de empresas que fomentem a produção nacional, é importante que o indivíduo que produz ananás saiba que vai vender o ananás, bem como o que produz manga. Além disso, o conhecido player refere que existe, por exemplo, uma série de produtos nacionais que já se deve pensar na sua exportação, ainda que não seja em grande escala, como são os casos da manga, banana e o do ananás.
“Tem de ser ‘step by step’ (pouco a pouco, em inglês). Não podemos pensar em exportar um barco da manga, não podemos exportar um barco de ananás, mas já podemos exportar um barco de sal, por exemplo. Estamos a falar no sal, já podemos exportar um barco de sal, tudo isto nós temos que ver como temos que fazer”, sublinha.
Financiamentos e certificação em destaque no AgroSummit
Os apoios de financiamento, que são diversos, segundo Bernardo Ribeiro, foi um dos temas de destaque da 1.ª edição do AgroSummit em Angola, que também juntou entidades da banca nacional e fundos internacionais.
À partida, o alto responsável da Teixeira Duarte Distribuição lembra que existem várias tipologias de financiamento, que permitem, desde o pequeno, médio e o grande empresário aderir e ter informação sobre como candidatar-se.
Além dos financiamentos, o tema sobre certificação é outro que dominou a agenda de debate. Bernardo Ribeiro explica que a presença de entidades certificadoras permite que alguns produtores passem a ter conhecimento de como certificar as suas ‘mercadorias’ para, mais tarde, conseguirem atingir mercados de exportação.
“Porque hoje em dia o mercado é global, obriga a certificações que são standard a nível internacional. Sem isso não é possível garantir um índice de exportação que seja viável quando comparamos com outras geografias”, finaliza.
Para Adérito Areia, o País deve começar, ainda que 'devagarinho', a certificar os seus produtos, que ainda são maioritariamente orgânicos, apontando, por isso, a necessidade de se aproveitar os meios de transportes que podem facilitar a locomoção dos respectivos produtos, como companhias aéreas que passam diariamente pelo País e que fazem percursos internacionais, bem como barcos.
“Eventos desta natureza são sempre importantes pela colocação do tema agricultura na mesa” - Fernando Pacheco
Para o engenheiro Fernando Pacheco, eventos desta natureza (AgroSummit) são sempre importantes pela colocação do tema agricultura na mesa, que, a seu ver, constitui o primeiro grande aspecto positivo. Aponta a produção de conhecimento como o segundo elemento positivo.
“Apontamos frequentemente como ponto negativo o facto de não se estar a fazer o suficiente para se fazer sair a agricultura do ponto em que se está, para projectarmos a produção nacional, mas é sempre bom ouvir relatos sobre as experiências existentes, os resultados que se vão alcançando, o que me faz sempre pensar que há sempre uma angola que dá certo, apesar dos problemas que ainda temos”, justifica.
Quanto ao terceiro aspecto positivo, Fernando Pacheco destaca a oportunidade de produtores trocarem experiências entre si, incluindo também os não produtores.
“Eu sou um não produtor, mas estou muito interessado em estar aqui e trocar opiniões, informações e ouvir as preocupações das pessoas, porque isso também contribui para eu realizar depois o meu próprio trabalho de análise e de opinião”, acrescenta o engenheiro agrónomo.
À E&M, Fernando Pacheco entende que existe uma esperança no sector, referindo que o peso político da agricultura aumentou nos últimos sete, oito anos. Explica, por exemplo, que hoje se observam coisas que não se viam antes.
“Obviamente que isso faz com que possamos alimentar a experiência. Há empresas a produzir, há produtos no mercado, começa-se a fazer, embora timidamente e com muita dificuldade, exportação e, obviamente, que isso são coisas positivas que nos animam.
Entretanto, explica que um aspecto positivo que começa a acontecer no País é fruto de muito trabalho por parte de algumas pessoas, que passa pela concepção de que o desenvolvimento da agricultura não se faz só com grandes empresas.
“É também da agricultura familiar, da pequena agricultura… e é gratificante ouvir os diversos actores virem aqui pela sua voz, reconhecerem isso. Deixa-nos satisfeitos", conclui.