IFC Markets Live Quotes
Powered by
3
1
PATROCINADO

Angola quer estar livre de minas terrestres até 2027, anuncia João Lourenço

Sebastião Garricha
11/11/2025
1
2
Foto:
DR

No seu discurso, João Lourenço explica que o desarmamento das mentes e dos espíritos é essencial para se consolidar a estabilidade e permitir que Angola avance na sua agenda de desenvolvimento.

Angola pretende estar totalmente livre de minas terrestres até 2027, anuncia o Presidente da República, João Lourenço, durante o acto central das comemorações dos 50 anos da independência nacional, realizado esta terça-feira, 11, no Memorial António Agostinho Neto (MAAN), em Luanda.

De acordo com o Chefe de Estado, trata-se de uma prioridade nacional e de um símbolo do compromisso do País com a paz duradoura, a reconciliação e o desenvolvimento.

“Com o apoio dos nossos parceiros internacionais, o País realiza um esforço significativo na desminagem, visando garantir a livre circulação de pessoas e bens, possibilitar o desenvolvimento de projectos agropecuários e a implementação de outros projectos de desenvolvimento económico e social”, afirma o Presidente.

João Lourenço enquadra esta meta na história recente de Angola, lembrando que a guerra civil, que dura 27 anos, deixou marcas profundas no território e nas famílias.

Para o Chefe de Estado, o desarmamento, tanto literal quanto simbólico, das mentes e dos espíritos é essencial para consolidar a estabilidade e permitir que Angola avance na sua agenda de desenvolvimento.

Investimento em infra-estruturas e energia

No discurso proferido diante de figuras nacionais e homólogos estrangeiros, João Lourenço destaca que a paz permite direccionar os esforços nacionais para o crescimento económico e a criação de bases sólidas para o futuro.

“Nestes 23 anos de paz, estabelecemos como prioridade a resolução dos principais problemas herdados da guerra, incluindo a reabilitação das infra-estruturas fundamentais para o desenvolvimento, além do combate à fome, à pobreza e às desigualdades sociais”, afirma, destacando os investimentos realizados no sector energético, considerados estratégicos para a industrialização do País.

Corredor do Lobito e diversificação económica

Entre as realizações mencionadas, João Lourenço destaca o potencial do Corredor do Lobito, que considera “um projecto de grande dimensão, cujos benefícios ultrapassam as fronteiras de Angola”.

Para o estadista, o Corredor do Lobito desperta grande interesse internacional por oferecer múltiplas oportunidades de negócios com parceiros e investidores estrangeiros, impulsionando o desenvolvimento do País e o fortalecimento da economia.

Lembra que o projecto envolve iniciativas ligadas ao transporte de mercadorias, à agricultura e à criação de indústrias regionais, sendo considerado peça central na integração económica no âmbito da Zona de Livre Comércio Continental Africana.

Educação e capital humano como motores do progresso

No seu discurso, João Lourenço aponta como prioridade o reforço do investimento para se fortalecer a educação, acelerar a redução do analfabetismo e garantir que o maior número possível de crianças “retorne ao sistema de ensino”.

Enfatiza, além, disso, a necessidade de se formar mais professores e de “despertar a consciência de que o progresso não depende apenas da acção do governo, mas do esforço conjunto de toda a sociedade”.

Angola e a política externa: paz e solidariedade

No plano internacional, Angola reafirma seu compromisso com a diplomacia e a resolução pacífica de conflitos. “O País tem uma sensibilidade especial em relação à guerra, à paz e à liberdade dos povos, por ter vivido essas experiências”, afirma João Lourenço, sublinhando que o País está à disposição dos Estados em conflito para contribuir com sua experiência na resolução de problemas.

Neste contexto, defende o fim da guerra na Ucrânia e a criação do Estado da Palestina, em conformidade com as resoluções das Nações Unidas.

“Defendemos firmemente o multilateralismo, por ser o único modelo inclusivo capaz de unir todas as nações do planeta”, acrescenta, ressaltando ainda a necessidade de reformar o Conselho de Segurança da ONU, que, a seu ver, não reflecte mais o equilíbrio de poderes nem a configuração geopolítica actual.

“País sonhado ainda está distante do alcançado”

À Economia & Mercado (E&M), Sérgio Calundungo, do Observatório Político e Social de Angola (OPSA), reage ao discurso proferido por João Lourenço, classificando-o como de ocasião.

Para o investigador, do ponto de vista interno, “o País sonhado ainda está distante do alcançado”, mas ressalta que o foco na desminagem “é ao mesmo tempo simbólico e concreto”, permitindo devolver terras produtivas e segurança às populações.

Entretanto, Sérgio Calundungo também destaca pontos que considera relevantes, como a reafirmação de que Angola se pretende integrar nas soluções globais, especialmente em relação ao multilateralismo e à necessidade de reformar o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.

Calundungo ressalta ainda que o Presidente “chama atenção para os golpes de Estado e para a instabilidade em África”, o que, segundo ele, demonstra uma Angola preocupada com a consolidação democrática no continente.