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“Até os estrangeiros estão a preferir comida africana”, afirma chef de cozinha Isabel Narciso

Victória Maviluka
25/5/2024
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Foto:
Andrade Lino

Chef de Cozinha abre o ‘menu’, em entrevista à E&M, e conta como os pratos típicos e decoração africanos estão no centro das preferências inclusivamente de clientes europeus.

Isabel Nogueira Narciso Muacanzanga desenvolveu a paixão pela culinária desde tenra idade. Com origens nas etnias ‘bakongo’ pela parte do pai e do Sul de Angola pela mãe, mas é em Luanda (Maianga) que nasceu e cresceu, numa quinta, em Viana, Sul de Luanda.

Estas ligações, adicionadas à ‘peregrinação’ por algumas províncias para tomar contacto directo com confecção de pratos típicos, fizeram de Isabel uma mulher versátil no que à gastronomia tradicional angolana diz respeito. 

Mas não se ficou apenas pelo conhecimento da culinária gerado no quotidiano da sua actividade. Isabel tem duas formações profissionais de Gastronomia, uma das quais feita em Portugal. Domina, por isso, parte significativa do menu europeu.

Em 2011, depois de se experimentar a servir comida em festas familiares, decidiu, então, abrir a sua própria empresa, com um capital inicial de 50 mil Kwanzas. Daí, nunca mais parou no negócio de buffet.

A INNARCIS, o apelido com que baptizou a empresa, tirando-o do seu nome próprio, existe, por conseguinte, há 13 anos. 

Já enraizada no mercado de buffet em Angola, a empresa, com sede na província de Luanda mas pronta para atender a solicitações além-fronteiras, é fonte de sustento de mais de 30 jovens.

Isabel diz que, hoje, tem uma carteira diversificada de clientes, e é expressivo o número de solicitações para serviços de buffet que recebe de empresas ou particulares estrangeiros.

A chef de Cozinha sublinha que, actualmente, são mais clientes estrangeiros que batem à sua porta, solicitando, maioritariamente, um menu composto por comidas típicas africanas.

“Eu tenho todo o tipo de cliente. Por incrível que pareça, até os estrangeiros estão a preferir comida africana. Hoje, recebo mais clientes estrangeiros que nacionais, que pedem, normalmente, um menu extremamente nacional, africano. Eu é que, muitas vezes, vou sugerindo, para variar, um ou outro prato estrangeiro”, reporta.

Conta que os clientes estrangeiros, na sua larga maioria europeus, procuram mais por catato - makosso, na língua nacional do esposo, como faz questão de sublinhar - o nsak’a madezu (kizaka com feijão), a kizaka com muamba crua, o menha-ndungu (cacusso seco com gindungo), a kikwanga e o makayabu.

A empresária do ramo da culinária e serviços de decoração refere que, hoje, dificilmente ‘fecha’ com um cliente serviço de buffet sem incluir o cabrité, um prato originário de países oeste-africanos, que tem como base cabrito grelhado.

“Já não sirvo buffet sem colocar cabrité, e quando você coloca cabrité já sabe que deve servir de guarnição a kikwanga, a banana pão assada ou frita. É pedido do cliente, é obrigatório”, declara.

Ressalta que “mais obrigatório ainda” no menu para clientes estrangeiros está o funge, de todos os tipos: de milho simples, de bombo simples e o misto.

A chef de Cozinha assegura, aliás, que, nas festas que serve, é o funge e os seus respectivos acompanhantes primeiro a acabar e a necessitar de reforço nas cubas.

“Normalmente, a gente tem de colocar quatro cubas só de funge. O molho de funge com a sua guarnição é a primeira coisa que acaba, ao passo que, se a gente vai para os pratos internacionais, você encontra lá aos montes”, relata.

Mas há, também, uma corrida entre cidadãos europeus pelos ‘quitutes da terra’. Aqui, segundo Isabel, perfilam a paracuca e outros doces, a múcua, o maboque, a cana-de-açúcar, o bombó assado e a banana assada.

“Não tem como realizarmos uma actividade e servir um buffet ou montar um casamento e não colocar quitute, não é possível”, afirma, acrescentando que, quanto a bebidas típicas, a kissangua e o sumo de múcua são mais solicitados em eventos religiosos.

Chef de Cozinha diz que funge com os respectivos molhos é o primeiro a acabar em festas (foto cedida pela fonte)

Preferência por mercados informais

Isabel Nogueira Narciso Muacanzanga afirma que o mercado luandense oferece muitas opções de produtos para confecção de pratos típicos africanos, mormente angolanos.

Refere que não é só pelo preço que acorre, preferencialmente, aos mercados informais para adquirir produtos do campo. Explica que estes são, muitas vezes, escassos nos supermercados.

“Para pratos nacionais, recorro ao Mercado do 30, ao Catinton, ao Kalumbo. Estes são os mercados que nos facilitam muito em termos de preços e acessibilidade”, observa a mãe de “muitos filhos”, entre biológicos e adoptivos.

Admite, entretanto, que há casos muito isolados de produtos cuja aquisição é feita directamente de outras províncias. São os casos, por exemplo, do catato e do bagre, que, normalmente, encomenda das Lundas e do Uíge, respectivamente.

Atesta que os produtos para a confecção de pratos nacionais chegam a ser relativamente mais baratos que os de menu estrangeiro.

Confidencia que, em média, um buffet para servir um casamento de 200 convidados tem um custo de 8 milhões de Kwanzas, sem incluir bebidas.

Isabel Narciso opera no segmento profissionalmente há 13 anos

Um cenário que ‘respira’ África

Faz parte da carteira de actividades da empresa INNARCIS igualmente serviços de decoração. Neste capítulo, segundo Isabel Narciso, há, também, uma grande presença de indumentárias africanas.

“Em todos os eventos que eu faço, procuro colocar aquilo que é a nossa identidade, aquilo que tem que ver connosco, aquilo que é África. Nós associamos aquilo que é África àquilo que é rústico, fazemos uma mistura que os clientes, sobretudo estrangeiros, gostam”, narra.

Descreve entre as indumentárias para transmitir a cultura africana nos cenários de festas obras de artistas plásticos ou de artesãos, como o Pensador, a Rainha Njinga, o balaio, o batuque ou a vassoura.

“Nós vamos à busca daquilo que é raiz. Fico muito feliz com este interesse, sobretudo de cidadãos estrangeiros, em pratos africanos, em coisas do nosso continente. Os operadores do segmento de restauração devem apostar ainda mais nesta área”, sugere a chef de cozinha Isabel Nogueira Narciso Muacanzanga.