A constatação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) está patente num relatório publicado recentemente, dando conta que mil milhões de crianças também vivem em pobreza multidimensional - ou seja, sem acesso à educação, saúde, habitação, nutrição, saneamento, ou água.
Por exemplo, o documento informa que na Ásia Central e Sul da Ásia; Ásia Oriental e Sudeste Asiático; África Subsaariana; e Ásia Ocidental e Norte de África, os índices de cobertura têm sido de cerca de 21%, 14%, 11% e 28% respectivamente desde 2016.
Já na América Latina e nas Caraíbas, por sua vez, a cobertura caiu significativamente de aproximadamente 51 para 42%. De acordo com o relatório, citado pelo UNICEF, a cobertura estagnou e permanece baixa noutras regiões.
Assim, as organizações referem que os dados indicam que nenhum país está no “caminho certo” para alcançar os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) de atingir uma cobertura substancial de protecção social até 2030.
“A incapacidade de proporcionar às crianças protecção social adequada deixa-as vulneráveis à pobreza, doenças, falta de educação e má nutrição, e aumenta o seu risco de casamento infantil e trabalho infantil”, informa.
A OIT e o UNICEF advertem, neste sentido que mais de 50 milhões de crianças com idades entre os 0 e os 15 anos não receberam uma provisão de protecção social crítica - especificamente, benefícios para crianças (pagas em dinheiro ou créditos de impostos), entre 2016 e 2020, elevando o número para 1,46 mil milhões de crianças com menos de 15 anos a nível mundial.
Filantropia em Angola
A situação socioeconómica no País torna ainda mais desafiante e urgente a tarefa de se garantir o bem-estar e a paz social, o que requer acções concretas e coordenadas entre o Governo, e os parceiros sociais.

À Economia & Mercado, Paula Cristina Cardoso de Morais, patrona da Fundação Ana Carolina, disse que para se alcançar uma sociedade mais inclusiva e saudável para todos, é fundamental prestar-se mais atenção às crianças e famílias vulneráveis.
Segundo a mentora do projecto criado13 de Abril de 2016, é necessário apostar-se mais na conscientização da social. “Precisamos concretizar as políticas públicas e as leis que já existem e deixar o sector social trabalhar com apoio, regulação e estratégias que vão de encontro às reais necessidades do país e seus públicos mais vulneráveis”.
Defendeu, igualmente, a necessidade de se massificar informações sobre a responsabilidade social pessoal e colectiva nos canais de comunicação de massa tendo, para o efeito, a educação como pano de fundo para a mudança de consciência.
“As instituições têm a responsabilidade de promover uma cultura de responsabilidade social, incentivando a participação cívica e estabelecendo políticas que promovam a equidade, a sustentabilidade e o bem-estar colectivo”, frisou.
No seu entender, a tomada de acção tem de ser colectiva, do qual é de suma importância o papel das lideranças em todos os sectores de forma a passar-se o exemplo, valores e actitudes.
Embora admita existir de forma pouco expressiva, ao seu ver, a filantropia no País ainda está longe do ideal e tem “um caminho a percorrer”.
“Sempre fomos um povo altruísta e solidário. Já temos algumas iniciativas filantrópicas corporativas e poucas particulares, como o caso da nossa fundação, mas estamos longe do ideal”, frisou, realçando que precisa-se de mais iniciativas filantrópicas de indivíduos com capacidade financeira para alcançar outros sectores críticos como a área da saúde, educação, e ciência.
A Fundação Ana Carolina assiste, actualmente, 100 crianças em regime ambulatório, ou seja, tratamentos de fisioterapia, terapia da fala/ocupacional, psicologia, e consultas, e oito crianças em regime doméstico.