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“Banqueiro dos pobres” condenado a seis meses por alegada violação das leis laborais

Cláudio Gomes
4/1/2024
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Foto:
DR

O Prémio Nobel da Paz Muhammad Yunus foi condenado a seis meses de prisão, por um tribunal do Bangladesh, por alegadamente violar as leis laborais daquele país.

A primeira-ministra Sheikh Hasina acusou o Nobel da Paz de tentar “sugar o sangue dos pobres” uma alusão as alegadas violações contra a legislação laboral por parte do Muhammad Yunus, escreve da Voz da América.

Além de Yunus, três funcionários da Grameen Telecom, empresa fundada pelo banqueiro, foram condenados por supostamente violar as leis laborais daquele país.

O procurador Khurshid Alam Khan anunciou, por sua vez, que “o tribunal concedeu-lhes fiança, dando-lhes um mês para interpor recurso contra o veredito do tribunal”. Um dos advogados de Yunus, Khaja Tanvir, citado pela Voz da América, disse que o caso tem motivação política e visa assediar politicamente Yunus.

Segundo o portal 7 Margens, que cita o The Guardian, a primeira-ministra do Bangladesh tem sido implacável com as manifestações de dissidência e, na actual disputa eleitoral, o principal partido da oposição, o Partido Nacionalista do Bangladesh (BNP), tem os principais dirigentes presos ou no exílio, tendo apelado aos apoiantes a que boicotem as eleições.

Contudo, os apoiantes do fundador do Banco Grameen, instituição pioneira de um movimento global que deu lugar ao que hoje é conhecido como microcrédito, alegam motivação política por trás da condenação contra Yunus.

Neste sentido, os seguidores sustentam que a condenação é uma tentativa do Governo liderado pela primeira-ministra Sheikh Hasina, para desacreditar a reputação do banqueiro que pondera criar um partido político, constituindo-se numa ameaça contra a Liga Awami de Hasina, partido político da primeira-ministra do Bangladesh.
Muhammad Yunus - Fundador do Banco Grameen
Em reforço, grupos de defesa dos direitos humanos acusam o Governo de Hasina, que procura o seu quarto mandato consecutivo nas eleições de 7 de Janeiro, de visar a dissidência política.

Muhammad Yunus é um reconhecido banqueiro de 83 anos de idade, natural do Bangladesh, que liderou um movimento que ajudou a retirar milhões de pessoas da pobreza através de pequenos empréstimos de menos de 100 dólares em beneficio de cidadãos pobres das zonas rurais daquele país asiático, tendo, por isso, considerado Prémio Nobel da Paz em 2006.

Uma década de perseguição

Segundo o portal 7 Margens, a perseguição a Muhammad Yunus começou há mais de uma década, por altura da difusão de um documentário que sugeria que ele tinha utilizado indevidamente fundos noruegueses (matéria de que viria a ser ilibado). De acordo com a fonte, posteriormente o Nobel da Paz em 2006 foi processado por sob a acusação de ter recebido financiamentos não autorizados pelo governo.

Para as agências internacionais, o facto da condenação acontecer a poucos dias das eleições gerais levanta dúvidas sobre a lisura do processo judicial que culminou com a condenação do banqueiro.

Por sua vez, Irene Khan, ex-directora da Amnistia Internacional, afirmou, à margem do julgamento de Yunus, que a condenação era “uma farsa da justiça”. “Um ativista social e laureado com o Prémio Nobel que trouxe honra e orgulho ao país está a ser perseguido por razões triviais”, friosu, citada por um jornal italiano.

A Amnistia Internacional acusou o governo de “utilizar as leis laborais como arma” quando Yunus foi a julgamento em setembro de 2023, e apelou ao fim imediato do “assédio” que lhe estava a ser movido.

Cerca de 160 personalidades mundiais, incluindo o antigo Presidente dos EUA, Barack Obama, e o antigo Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, publicaram, no mês anterior, uma carta conjunta denunciando a “perseguição judicial contínua” contra Yunus, conforme referência do portal 7 Margens. Os signatários, lê-se, incluindo mais de 100 dos seus colegas galardoados com o Prémio Nobel, afirmaram temer pela “sua segurança e liberdade”.

Trajetória do Nobel da Paz

Muhammad Yunus é muçulmano não-praticante, nascido em 1940. Estudou Ciências Económicas em Nova Délhi, na Índia, tendo, mais tarde continuando os estudos nos Estados Unidos com bolsas das instituições Fullbright e Eisenhower.

Em 1972, ele regressou ao país e passou a dirigir o departamento de Economia da Universidade de Chittagong. Mas foram os projetos sociais que se tornaram a força-motriz para que Yunus fosse premiado também com o Nobel da Paz, em 2006.

O Comité Nobel afirmou que os "microcréditos tornaram-se numa importante força de libertação em sociedades nas quais as mulheres precisam lutar contra um entorno social e económico repressivo".