Há sensivelmente 10 dias o BFA lançou a Oferta Pública de Venda (OPV). Qual a percentagem de acções disponíveis?
A OPV corresponde à venda de 4.462.500 acções ordinárias, escriturais e nominativas do BFA, que representam 29,75% do capital social e dos direitos de voto.
Da tranche global a ser colocada, 2% corresponde a uma tranche destinada a aquisição preferencial por colaboradores e órgãos sociais do BFA.
Está igualmente prevista a admissão à negociação de 15 milhões de acções, representativas da totalidade do capital social do banco, no mercado de Bolsa.
A operação tem dois oferentes: a Unitel, que irá alienar 15% da sua participação, e o BPI, que venderá 14,75%. No caso da Unitel, trata-se de uma oferta enquadrada no Programa de Privatizações do Governo (PROPRIV). Já a alienação por parte do BPI resulta de uma decisão estratégica de acompanhar o accionista maioritário.
Para o BFA, esta operação representa uma oportunidade de reforço institucional, ao transformar-nos numa sociedade aberta, permitindo alargar e diversificar a base accionista e reafirmar o compromisso com a transparência e a criação de valor para os angolanos.
Pode detalhar o calendário definido para a operação?
O período de subscrição decorre entre 5 e 25 de Setembro. O preço final será fixado a 26 de Setembro, na sessão de apuramento de resultados, a liquidação física e financeira ocorrerá a 29 de Setembro e a admissão à Bolsa está prevista para 30 de Setembro.
Qual é o preço das acções?
O valor nominal é de 6.000 kwanzas, mas o preço final será definido em Bolsa, dentro de um intervalo entre 41.500 e 49.500 kwanzas por acção, em função da procura verificada. A subscrição está aberta ao público em geral, com um mínimo de 5 acções e um máximo de 1.499.999 por investidor.
Quais serão as participações da Unitel e do BPI após a OPV?
A Unitel, actualmente com 51,9 por cento verá a sua participação reduzida para 36,9 por cento. O BPI passará de 48,1 por cento para 33,35 por cento. Apesar da dispersão, ambos continuarão a ser accionistas estratégicos — a Unitel como nacional e o BPI como internacional de referência.
Investidores estrangeiros podem participar?
Sim. São elegíveis, desde que cumpram os requisitos legais previstos no código da CMC.
O que mudará em termos de governação e transparência?
O BFA já tem hoje um modelo de governação consolidado, que segue as melhores práticas internacionais e que desempenha um papel fulcral no cumprimento dos objectivos estratégicos definidos, garantindo controlo, fiscalização e transparência do negócio.
No entanto, enquanto sociedade aberta, o BFA ficará naturalmente sujeito a um escrutínio adicional e a requisitos adicionais de supervisão por parte da CMC, o que trará novas exigências de reporte.
Contudo, já seguimos práticas sólidas de governação, gestão de riscos e transparência, sendo um dos nove bancos de importância sistémica regulados e supervisionados pelo BNA e pela CMC e estamos preparados para as novas exigências que advêm deste processo. Na prática, o IPO reforça um caminho que já vínhamos a percorrer.
Acredita que o movimento do BFA irá incentivar outras empresas a abrirem o seu capital em Bolsa?
Sim. O mercado de capitais angolano está a consolidar-se e já há empresas a manifestar interesse em abrir o capital ao público. A OPV do BFA, sendo um dos principais activos financeiros do País, poderá servir de incentivo para outras empresas ponderarem a sua admissão em Bolsa.
Estamos convictos de que a operação mostrará que é possível aliar rentabilidade, robustez financeira, reputação e transparência, promovendo maior confiança junto dos investidores.
Quais os deafios sector bancário em Angola de forma geral?
O sector enfrenta desafios ligados ao ambiente macroeconómico — inflação, escassez de divisas e volatilidade cambial, regulamentação, compliance, nível de bancarização e literacia financeira. Mas onde há desafios, também existem oportunidades.
O BFA procura sempre desenvolver soluções ajustadas às necessidades dos clientes, mesmo em cenários adversos e desenvolve a sua estratégia de crescimento de forma a responder aos desafios do sector.
Quanto à lista cinzenta do GAFI, reconhecemos que representa um desafio, apesar do esforço notório de Angola em alinhar a sua regulamentação e actuação do sector financeiro e particularmente no bancário, aos padrões internacionais. É importante que este esforço seja transversal ao país.
Financeiramente como está o BFA?
O Banco apresenta-se sólido e robusto. O BFA tem apresentado, nos últimos anos, resultados consistentes e crescentes, tanto do ponto de vista financeiro como da evolução do negócio. Temos mantido um crescimento sustentado em várias áreas de actividade e preservado a nossa posição como banco de referência — sólido, robusto e com elevados níveis de rentabilidade e eficiência.
Em 2024 reforçámos esta trajectória de crescimento: ultrapassámos a marca dos três milhões de clientes e recebemos diversas distinções, entre as quais a de Melhor Banco de Angola, atribuída pela revista The Banker. Foi a quinta vez que recebemos este prémio num espaço de 10 anos, um reconhecimento importante do trabalho desenvolvido.
Em termos financeiros, o activo total ascendeu a 3,9 biliões de kwanzas, mantendo-nos na segunda posição do mercado. A carteira de crédito atingiu 790 mil milhões de kwanzas, com uma taxa média de crescimento anual de 29% nos últimos três anos — um desempenho expressivo que confirma o nosso papel entre os bancos que mais financiam a economia nacional.
Os resultados líquidos fixaram-se em 206 mil milhões de kwanzas, com uma taxa média de crescimento anual de 21% nos últimos três anos, suportada sobretudo pelo forte desempenho da margem financeira. Mantemos também elevados níveis de eficiência, com um cost-to-income estável em 38%, abaixo da média do mercado.
No que respeita à rentabilidade, o Return on Average Equity manteve-se acima dos 30%, em linha com o histórico dos últimos anos. Já o rácio de solvabilidade ultrapassa os 40%, garantindo uma folga considerável face às exigências regulamentares, de 16,3%, e comprovando a robustez financeira da instituição.
Com base nestes indicadores, o BFA tem sido consistentemente um dos bancos mais lucrativos do sector, mantendo uma política estável de distribuição de dividendos e reforçando a confiança dos accionistas.
Em termos de concessão de crédito? Partilhe connosco a taxa de incumprimento?
Em 2024, mantivemos a trajectória de crescimento da carteira de crédito do BFA.
A carteira de crédito bruto atingiu os 790 mil milhões de kwanzas, com uma taxa de crescimento média anual, nos últimos 3 anos, de 29%.
Consolidámos o nosso posicionamento na lista dos bancos que mais financiam a economia.
Nas empresas, com maior destaque nos sectores da construção, agronegócio e pescas e comércio por grosso e retalho e nos particulares, através de soluções de crédito ao consumo e crédito habitação.
Apesar desta trajectória de crescimento, mantivemos elevados níveis de qualidade do crédito, com um rácio de crédito vencido de apenas 1,5%, bastante inferior ao sector em que a média ascende a 20%, e um rácio de crédito malparado (NPL) de 7,7%, inferior à média do sector que ascende a aproximadamente 18%, o que é claramente um factor diferenciador face à concorrência e reflecte a robustez e prudência do balanço do BFA.
Pode adiantar os últimos dados sobre a taxa de transformação de depósitos em crédito?
No último ano, o rácio de transformação apresentou uma melhoria considerável de 5,2 pontos percentuais, fixando-se em 26,1% no final de 2024. Este valor, aparentemente inferior à média do mercado, explica-se pela particularidade da nossa carteira de depósitos: cerca de metade da carteira de depósitos é denominada em moeda estrangeira, sobre a qual existem restrições à concessão de crédito impostas pelo regulador, que no essencial limita a concessão de crédito em moeda estrangeira a contrapartes que geram receitas em moeda estrangeira. Assim, o nosso rácio de transformação terá sempre uma limitação estrutural.
No entanto, destacamos o rácio de transformação em moeda nacional, que ascendeu a 45%, com um crescimento de 7 pontos percentuais, e em linha com a média do sector.
Em entrevista exclusiva, Francisca Ferrão Costa, administradora do Banco de Fomento Angola (BFA)
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