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'ESPECIAL INDEPENDÊNCIA': QUO VADIS, ANGOLA

Hélder Preza
9/11/2025
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Hoje, volvidos 50 anos, o balanço pós-independência é dramático. Os gestores do país não foram capazes de oferecer ao povo nada do que lhes foi prometido.

Quando, em novembro de 1975, assisti com alegria, à proclamação da Independência, proferida pelo Presidente Agostinho Neto, dois pensamentos me ocorreram:

O primeiro, uma interrogação: Quando é que acabaria a guerra entre os angolanos (FNLA, MPLA e UNITA)?  

O segundo, uma certeza: Logo que terminasse a guerra, tudo seria melhor que antes.

Estava convicto que terminada a administração portuguesa e livres das agruras do colonialismo, com os angolanos a decidir sobre o seu destino e a assumir a governação do país, o futuro seria próspero, risonho e radioso para todos. Ledo engano.

Hoje, volvidos 50 anos, o balanço pós-independência é dramático.  Os gestores do país não foram capazes de oferecer ao povo nada do que lhes foi prometido.

Na maior parte dos aspectos da vida social dos angolanos, houve uma enorme degradação. Regredimos, e regredimos muito.

Onde havia pobreza, hoje há miséria; onde havia escassez alimentar, hoje há fome crónica; onde havia analfabetismo, hoje há ignorância; onde havia falta de água, hoje há seca severa; onde havia vias de comunicação precárias, hoje há vias intransitáveis; onde havia humilhação por parte do colono, hoje há sofrimento e morte causados pelos nossos irmãos; onde havia um cipaio que espancava, hoje há um polícia que mata; onde havia uma prisão com julgamento tendencioso hoje há uma detenção arbitrária e sem julgamento; onde havia imposto geral mínimo, hoje há um IVA que dilacera os parcos rendimentos do trabalhador; onde haviam escolas para poucos, hoje há escolas que não ensinam; Enfim, entramos num processo de degradação social que precisa de ser urgentemente revertido.

Onde havia pobreza, hoje há miséria; onde havia escassez alimentar, hoje há fome crónica; onde havia analfabetismo, hoje há ignorância; onde havia falta de água, hoje há seca severa

É um facto que governar requer decisões difíceis. Requer argúcia e inteligência para escolhas complicadas e delicadas. Requer um conjunto de requisitos de ordem intelectual, humano e científico, os quais nem todos possuem. Requer experiência, conhecimento e principalmente abertura para o mundo, para que as decisões sejam equilibradas e contribuintes para se atingirem os objectivos pretendidos.

Durante os 50 anos de independência quase sempre estes elementos foram deixados de lado, e, como resultado, o nosso país está num perfeito estado de desgovernação. A nação não tem rumo, não tem ordem, não tem objectivos estratégicos, não tem mando, em resumo, não tem futuro. A pobreza aumenta, os jovens estão frustados e sem esperança, as mães choram e os intelectuais estão resignados e sem força para lutar.

Uma reflexão sobre a desgovernação por que passamos desde a independência requer que coloquemos algumas interrogações: Onde foi que falhámos? Quem falhou? Teríamos condições de fazer melhor? Por que não o fizemos? Como será o futuro? O que poderemos fazer para alterar o presente quadro?

Leia este artigo na íntegra na edição 'Especial Independência: 50 Anos a acreditar’ da revista Economia & Mercado, já disponível nas bancas.