Paulo Portas que interveio ontem, quarta-feira, 21 de Junho, no Angola Innovation Summit 2023, justificou a afirmação com o facto de a economia europeia ser “altamente exportadora”. Ao dissertar no painel que debateu as “Tendências globais e dinâmicas dos mercados”, moderada a partir de Luanda pela presidente do conselho de administração (PCA) da Academia BAI, Noelma D’Abreu, o agora consultor estratégico referiu que uma fragmentação da globalização causaria perdas de oportunidade para as exportações europeias nos mercados asiático e chinês em particular.
Na sequência da dissertação feita via remota a partir de Portugal, Paulo Portas explicou, igualmente, que uma relação comercial baseada no binómio “Ocidente com Ocidente” e “Oriente com o Oriente”, representaria uma perda do Produto Interno Bruto (PIB) global na ordem dos 5 a 7%.
“Não acredito na ‘desglobalização’ pela simples razão de que o comércio internacional é o principal motor de crescimento do mundo juntamente com o investimento e com a inovação. E o comércio internacional daqui a 50 anos será de um terço do PIB do mundo depois do início da globalização”, referiu.
Ainda sobre o assunto, disse se tratar de uma “discussão” que se “houve muito” nas elites políticas dos Estados Unidos de América e na Europa, mas que “não se houve na sociedade e em particular no hemisfério Sul, que no entender do especialista, foi beneficiada e ainda tem aspirações de beneficiar mais dos mercados abertos pela globalização.
“Chamo atenção para o segundo risco que é mais sério. O risco de fragmentação, que é uma espécie de divisão da globalização por blocos geopolíticos. Ou se quiserem, é uma submissão da geoeconomia aos blocos geopolíticos. Tendencialmente, isto não é bom para continentes como Europa e África”, realçou.
Na visão do também ex-ministro da Defesa de Portugal, vai haver muita pressão tanto do lado de Washington como de Begin, para selecionar politicamente os clientes e parceiros comerciais. “Não vejo que essa fragmentação tenha qualquer vantagem para os países em desenvolvimento e mesmo os países da Europa”, frisou.
Entre outros temas abordados, o consultor apontou o “diálogo entre as duas superpotências”, isto em relação à guerra entre a Rússia e a Ucrânia e sobre o rumo do conflito que a seu ver ainda é incerto.
“Em relação a direcção da guerra, não me parece que estejamos próximo daquilo que evidentemente seria o fim de todo o processo bélico. Ainda estamos na fase em que cada uma das partes quer reforçar a posição em que um dia chegar as negociações de paz. Chamo a vossa atenção, aliás, saúdo a iniciativa dos Presidentes africanos que como outras, fazem sentir o impacto geral que a guerra traz na confiança económica e no desenvolvimento”, avançou, referindo que vive-se actualmente “um impasse operacional” e que a Rússia é “agressora” e a Ucrânia a “agredida”.
Perspectivas económicas globais
“O ano económico de 2023 é menos brilhante do que 2022, mas é melhor do que as previsões que há seis meses se faziam para este ano”, afirmou o ex-primeiro-ministro português durante a intervenção no AIS 2023.
De acordo com Paulo Portas, as previsões apontadas há seis meses, no final de 2022, indicavam que a economia dos Estados Unidos entraria em estagflação, ou seja, crescimento nulo e inflação muito alta.
“A previsão para a Europa era que pelo menos três das cinco grandes economias europeias estariam neste momento em recessão. Assim, segundo as previsões, deveria ter acontecido com a Alemanha, Itália e com o Reino Unido. Ao fim de seis meses do ano económico de 2023, nos Estados Unidos não há estagflação, há crescimento bastante moderado e na Europa, tirando uma dúvida persistente que existe ainda sobre a Alemanha e é uma dúvida relevante por ser a maior economia na europeia, a verdade é que a Itália, a França, a Espanha, e provavelmente a Alemanha, terão este ano um crescimento modesto”, apontou, recordando que a única economia europeia relevante que “está em recessão” é a inglesa por conta do Brexit.
Segundo o consultor, vive-se hoje um crescimento acima de 1% nos Estados Unidos, e não com uma estagflação, e na casa dos 0,9% e não uma contração como era espectável. “Este era o primeiro registo que queria assinalar”. O segundo, é uma coisa que preocupa todo o mundo, não é assimétrico, mas é uma tendência que todos conhecemos. Até onde irão os bancos centrais na sua luta contra a inflação do ponto de vista da alta das taxas de juros?”, indagou de forma retórica, aludindo para as acções levadas acabo pelos maiores bancos centrais do mundo, no caso a Reserva Federal Americana, Banco Central Europeu e o Banco Central Chinês.
Paulo Portas é licenciado em Direito pela Universidade Católica de Lisboa e leccionou História do Pensamento Político. Dá aulas de Geoeconomia e Relações Internacionais na Universidade Nova, Emirates Diplomatic Academy (Abu Dhabi), e seminários diretos sobre Diplomacia Económica para empresas multinacionais. É também comentador regular de política internacional na TVI e orador frequente em conferências internacionais. Fala fluentemente o português, inglês, espanhol, francês e italiano.

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