Tem fama de ser a terra que ‘queima’ governantes. É, também, a província que mais ‘come’ verbas do Orçamento Geral do Estado (OGE), aliás, nela concentram-se todos os ‘palácios ministeriais’, incluindo o presidencial. Na data em que a cidade de Luanda comemora os seus 448 anos de existência, a Economia & Mercado fez uma ronda pela província para radiografar detalhes e ouvir opiniões de cidadãos.
Luanda continua a ser a província de braços abertos, que recebe cidadãos provenientes de vários pontos do País, entre nacionais e estrangeiros. É, segundo dados do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), a província com maior densidade populacional, contando com, pelo menos, 9 milhões, 79 mil e 811 habitantes, apurou a E&M.
Apesar dos 448 anos e de, supostamente, reunir todas as condições para ganhar o status de centro económico e político do País, a província continua a registar dificuldades no acesso a água potável, luz eléctrica, educação, assim como problemas de segurança pública.
Mas não são os únicos ‘dilemas’ que Luanda enfrenta. A província ‘debate-se’, também, com os problemas das estradas esburacadas, do ‘acumular’ de lixo, da abundância de pessoas sem-abrigo, das bacias de retenção e valas de drenagem que ‘afogam’ todas as ‘boas intenções’ do Governo Provincial de Luanda (GPL).
Numa ronda feita em várias avenidas da província, a E&M constatou que a falta de iluminação e a escassez de semáforos funcionais são, de resto, os outros problemas que a capital ainda não conseguiu ultrapassar, apesar de o Governo Provincial de Luanda (GPL), ainda com Ana Paula de Carvalho ao leme, ter anunciado um projecto de electrificação que visava, essencialmente, mudar o cenário.
A Avenida Ho Chi Min, por exemplo, continua sem iluminação, mesmo sendo um percurso que acolhe infra-estruturas como: Faculdades de Direito, de Ciências Sociais e Engenharia da Universidade Agostinho Neto; Centro de Integrado de Segurança Pública (CISP); Quartel do Estado-Maior general das Forças Armadas Angolanas; Largo das Heroínas e Primeiro de Maio; todos elas tuteladas pelo Executivo.
Aliás, cenários semelhantes estão reflectidos nas avenidas Ngola Kiluanje (São Paulo – Kikolo), Luther Rescova (Golfe 2 – Rotunda da Camama), Pedro de Castro Van-Dúnem Loy (Shoprite – Golfe 2), Deolinda Rodrigues (1.º de Maio – Viana) e Fidel de Castro (Cacuaco – Via Expressa).
Parece que o GPL, com Manuel Homem à frente, tem tentado, com várias marchas, corrigir ‘ o mal’, e requalificar a província, como fez com os reordenamentos do comércio e do trânsito. Mas facto é que Luanda continua ‘refém’ de ‘sérios’ problemas, apesar dos 448 anos, menos 552 para completar um milénio.
A par do supradito, Luanda mantém-se no topo do ranking das províncias com altos registos de mortes por sinistralidade rodoviária, assim como continua ‘despreparada’ para dar soluções definitivas às bacias de retenção e valas de drenagem.
Apesar dos 209 milhões kz previstos no OGE 2023 para o desassoreamento das valas de drenagem e a reabilitação de bacias de retenção, a E&M sabe que, nas ruas do ‘Congo’ e da ‘Fábrica de Bloco’ (Zangos 2 e 3), pelo menos 15 pessoas foram vítimas das inundações de infra-estruturas de drenagem a ‘céu aberto’ até Janeiro de 2023.
É sabido, também, que de 15 de Agosto a 5 de Dezembro, 31 mil e 200 pessoas foram directamente afectadas pelas consequências das chuvas, de acordo com os dados do Serviço de Protecção Civil e Bombeiros.
Estradas esburacadas e vias alternativas
O estado das estradas do País tem sido tema de debate em vários círculos. Muitas das vezes por causa da questão do escoamento de produtos agrícolas das zonas rurais para os centros urbanos, já que o Executivo tem reiterado a decisão da aposta na produção local.
Na ronda que fez, a equipa de reportagem da E&M constatou que a discussão convida, também, à questão da ‘inexistência’ das vias terciárias e de zonas que ‘há muito tempo’ aguardam pela intervenção do GPL.
Por exemplo, através de um documento o GPL comunicou que começariam obras nalgumas zonas do município de Talatona, enquanto o ‘bairro Uíge’, no distrito urbano do Sambizanga, e a Sonefe, no município do Cazenga, que até albergam ‘instituições importantes’ continuam com acessos deficitários.
Na edição que se encontra nas bancas, a E&M escreveu sobre os efeitos das chuvas na capital do País e apontou para localidades em que a caminhada diária dos cidadãos faz-se com alguma dificuldade. Sendo o caso do distrito do Morro dos Veados, onde os moradores lamentam o facto de a chamada ‘Estrada do Branco’ apresentar debilidades antes de completar o tempo útil de vida, que vai de oito a 12 anos.
Cidadãos divergem nas opiniões
Se para alguns cidadãos Luanda tem marcado passos à frente, dando respostas aos mais diferentes problemas que lhe cruzam, outros não parecem ter a mesma visão. Jorge Matumona e Augusto Calunga, são dois estudantes de Geologia, que já não têm Luanda como a terra dos sonhos.
Nascidos na província do Cuanza Norte, Jorge e Augusto revelam, por ocasião da celebração dos 448 anos de Luanda, que preferem regressar ao lar que os viu partir quando ainda ‘crianças’. “Luanda parece estar a recuar”, afirmam.
De aproximadamente 31 anos, Jorge Matumona acha inadmissível o facto de a província de Luanda ‘entrar’ no debate sobre as estradas. “Isso seria problema de algumas províncias do interior, como Cuanza Norte. Mas, para quem sai do Dondo a Luanda, aí na Maria Teresa, vê-se logo o estado das estradas. É inadmissível”.
À semelhança do outro estudante, Augusto Calunga entende que o ‘insistente’ registo de estradas esburacadas resulta de uma suposta vontade deliberada de pessoas que se ‘beneficiam’ directamente das verbas alocadas para construção e reabilitação de estradas.
“Andam a gastar o dinheiro, por isso interessa-lhes que as estradas permaneçam degradadas. É a única razão que se pode apontar”, afirmou o também estudante de Geologia de uma das Instituições de Ensino Superior adstritas à província de Luanda.
Contrariamente, Abel Muhongo julga que o GPL tem estado à altura dos desafios que lhe são impostos. Para o também politólogo, os responsáveis precisam de tempo para ouvir, estudar e agir.
“Penso que o GPL tem feito isso. E o mais importante é que consegue dar respostas aos problemas que as estradas de Luanda apresentam. Basta olhar para a intervenção que está a fazer na Pedro de Castro Van-Dúnem Loy, que liga a Shoprite ao Golfe 2. Temos que ser justos e reconhecer o trabalho”, observou Abel Muhongo.
Energia já gastou pelo menos 20 mil milhões USD
O sector da energia prevê gastar mil milhões USD por ano até 2028. Para além de prever o aumento da energia para a distribuição no País, o Executivo também objectiva apostar na exportação para países vizinhos.
Segundo a Direcção Nacional de Electricidade (DNE), a capacidade de produção de energia eléctrica a partir de centrais térmicas no final de 2022 rondava os 35%. Entretanto, os números do Ministério da Energia e Águas (MINEA) indicam que até o final de 2022, apenas 43% da população tinha acesso à energia eléctrica, um crescimento de 0,9 pontos face ao ano anterior.
Deste total, pelo que a E&M apurou, Luanda foi o grande centro de consumo da energia eléctrica produzida no País, já que cerca de 65,7% da população da capital tem acesso a energia eléctrica.
A meta do MINEA é chegar aos 75% em 2027. Enquanto isso, como apurou a E&M, várias famílias estão dependentes de gerador, injectando verbas para aquisição do combustível que também viu o preço a disparar no último semestre de 2023.
Dados do Expansão indicam que o País já investiu, desde 2014, pelo menos 20 mil milhões USD em electricidade, mas que a capacidade continua a depender dos combustíveis fósseis.

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