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Malária matou mais pessoas do que a Covid-19 em 2020

Cláudio Gomes
23/4/2021
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Foto:
DR

No ano passado, só em Luanda, a doença causou a morte de 2.435 cidadãos, três vezes mais do que o total de mortes provocadas pela pandemia da Covid-19 (572) desde Março do mesmo ano em Angola.

Em 2020, o número de infortúnios por malária superaram também os registados  em 2019, período em que morreram 849 pessoas, ou seja, no ano passado, morreram mais 1.586 óbitos do que no período homologo.

Segundo dados do Programa de Controlo da Malária (PCM) do Gabinete Provincial de Saúde de Luanda, tornado público em Março de 2021, no ano passado, foram registados um total de 835.202 casos de malária, um aumento de mais 144.459  em relação a 2019, altura em que notificou-se 690.743 casos de malária.

Este ano, porém, o quadro sóbrio pintado pelas centenas de mortes provocadas pela doença pode agravar-se, considerando o volume de lixo e águas residuais que embeberam quase que por completo a cidade capital.

O cenário caótico  gerado pela questionável decisão do Governo da Província de Luanda (GPL) em suspender os contratos de prestação de serviço que mantinha com seis operadoras de limpeza e recolha de resíduos sólidos, anunciada em finais de Dezembro de 2020 pela governadora da província, comprometeu ainda mais o débil saneamento básico da cidade.

Joana Lina terá garantido, na altura, de acordo com a Angop, que até à primeira quinzena de Janeiro de 2021, os trabalhos de limpeza e recolha dos resíduos sólidos seriam assegurados pelas administrações municipais, distritais e empresas que até a altura estavam disponíveis em colaborar com o GPL, contudo, os factos evidenciaram o contrario.

Num curto espaço de tempo, como era de se esperar, a cidade capital foi invadida por aglomerados de lixo que se espalharam todos os a cantos das zonas urbanas e, sobretudo, no interior dos bairros periféricos e como consequência aumentou o número de moscas, mosquitos e vermes a deambular pelas ruas.

Luanda, Avenida Deolinda Rodrigues, zona da Estalagem

Para António Ferraz Cateco, morador do bairro Pedalé, distrito da Maianga, os sinais da malária evidenciam-se pelo aumento do lixo e de águas paradas, que tem proporcionado o surgimento de insectos.

Segundo o cidadão que trabalha por conta própria, ao longo da semana passada, uma das suas filhas manifestou sinais de malária como vómitos, diarreias, e febres.
Entretanto, referiu, uma semana depois, eu também cai muito febril. “Era mesmo paludismo. Tinha quatro por campo”, disse.

“Como eram sintomas do paludismo procuramos ajuda médica num a centro de saúde privado mais próximo de a casa”, disse António Ferraz Cateco.

Para Adélia Samihombo, moradora do Morro Bento, distrito da Samba, o grande problema está no volume de lixo por colectar e as águas paradas das chuvas.

“Por acaso, os mosquitos e as moscas aumentaram muito. Em minha casa, por exemplo, passamos duas semanas seguidas com muito mosquito, inclusive tivemos de fazer fumaça”, explicou.

Combate cerrado à malária

Neste domingo, 25 de Abril, assinala-se o Dia Mundial de Luta contra o Paludismo, numa altura em que se lamenta a morte de 384.000 pessoas, todas “imputadas a esta doença na Região Africana da OMS, em 2020”.

Segundo a directora Regional da OMS para a África, dos 229 milhões de casos de paludismo e 409.000 mortes por paludismo notificados no mundo, 94% foram registados na Região Africana da OMS, apesar dos grandes progressos realizados na resposta ao paludismo na Região.

No entanto, refere Matshidiso Moeti, na mensagem em alusão ao Dia Mundial de Luta contra o Paludismo, 36 dos 44 países da Região endémicos de paludismo não atingiram os marcos estabelecidos. No geral, acrescentou, a Região ficou 37% e 25% aquém dos objectivos estabelecidos em relação à incidência e aos óbitos, respectivamente.

Conduto, realçou que embora a incidência do paludismo na Região tenha diminuído entre 9% e 10% a cada cinco anos, entre 2000 e 2015, nos últimos cinco anos esta taxa diminuiu apenas para menos de 2%.

Para a directora Regional da OMS para a África, as mortes provocada  paludismo são “evitáveis”.

A responsável disse, no entanto, que são necessárias adopção de medidas urgentes para travar o flagelo desta doença, de modo a “nos aproximarmos dos objectivos mundiais definidos para o paludismo, nomeadamente a redução em 90% do número de casos e mortes imputáveis a esta doença até 2030”.

Para Matshidiso Moeti, são necessários também investimentos significativos para garantir um maior acesso às intervenções de combate ao paludismo por parte dos grupos negligenciados, como as crianças e as grávidas.

Mosquito Anopheles

“É importante que a implementação das intervenções seja bem pensada de modo a proteger a eficácia das ferramentas antipalúdicas, e que sejam adoptadas soluções inovadoras para responder de forma proactiva aos desafios que se avizinham”, sublinhou a directora Regional da OMS para a África.

Para a interlocutora, cada ano em que se deixa o paludismo se propagar, a saúde e o desenvolvimento padecem. “O paludismo é responsável por uma redução média anual de 1,3% do crescimento económico em África”, disse Matshidiso Moeti na mensagem proferida em alusão ao Dia Mundial de Luta contra a doença.

Para 2021, o tema escolhido pela OMS é “Zero paludismo – fazer frente ao paludismo”, porque todos os casos de paludismo são evitáveis e todas as mortes por paludismo são inaceitáveis.

A malária é uma doença infecciosa febril aguda, causada por protozoários transmitidos pela fêmea infectada do mosquito Anopheles, que se aloja e se reproduz em águas paradas, focos de resíduos sólidos.