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Mártires de Kifangondo, um ‘corredor africano’ instalado em Luanda ao estilo de ‘Zona de Livre Comércio’

Sebastião Garricha
27/5/2024
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Foto:
DR

'Tudo' acontece nas ruas 14 e 15, onde estão instaladas as mesquitas e várias dezenas de estabelecimentos comerciais, entre lojas e restaurantes.

O Mártires de Kifangondo, localizado no distrito urbano da Maianga, município de Luanda, é, além do Hoji-Ya-Henda, a zona da cidade capital que mais concentra cidadãos provenientes de diferentes países do continente. 

À semelhança de um ‘concerto das nações’, a zona acolhe cidadãos dos Camarões, do Chade, Congo, da República Democrática do Congo, do Gabão, da Guiné Equatorial e República Centro-Africana, do Burquina Faso, da Costa do Marfim, Gâmbia, do Gana, da Guiné Conacri e Bissau, Libéria, do Mali, Níger, Togo, Senegal, da Nigéria e da Serra Leoa.

Além desses, segundo constatações da Economia & Mercado (E&M), existem outros provenientes da Etiópia, do Quénia, Sudão do Sul, Tanzânia, Somália, Zimbábue, Uganda, da Eritreia e da Arábia Saudita que se ‘misturam’ com a minoria de angolanos dedicados ao comércio naquela zona.

De acordo com uma fonte da E&M, que prefere o anonimato, as roupas, os cortes de cabelo e resto da aparência física dos cidadãos que circulam no Mártires do Kifangondo cria um ‘enigma’ difícil de decifrar.

“Antes só era difícil distinguir a proveniência dos estrangeiros, sendo que todos pareciam do Mali ou do Senegal. Mas agora, por causa do comércio, também já é difícil saber quando é que se trata de um angolano, porque utilizam os mesmos vestuários e  cortes de cabelo”, revela a fonte.

Isso acontece, precisamente, nas ruas 14 e 15, onde as várias dezenas de estabelecimentos, entre lojas de venda de bens alimentares, bebidas alcoólicas e não alcoólicas, vestuários, cosméticos, estética e restaurantes propiciam o cenário de ‘zona de comércio livre’.

Aliás, as duas ruas contam, também, com a presença de uma larga maioria de cidadãos, entre angolanos e outros de outras nacionalidades, que se dedicam ao ofício de venda e compra ‘informal’ de moedas estrangeiras.

Tratando-se da rua 15, por exemplo, o movimento é mais agitado. À entrada, junto ao muro de cobertura das instalações do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), perfilam vários cidadãos sentados, uns à frente de estabelecimentos comerciais, outros em locais sem qualquer indicação de comércio.

Na rua 14, pelo que apurou a E&M, o fluxo de pessoas é relativamente inferior. Entretanto, facto é que, durante três dias de constatação, a dinâmica do ambiente não se alterou. 

Por exemplo, às 13 horas o comércio pára, literalmente, por força da religião. Neste período, os comerciantes reúnem-se nas mesquitas para a tradicional oração. Apesar de ter fama de zona onde ‘circula muito capital’, não se tem muitos registos de delinquência.

Aliás, no centro do corredor que se estende naquela rua está instalado um posto móvel da Polícia Nacional, justamente para manter a tranquilidade e a ordem.

Principal mesquita, no Mártires de Kifangondo

Angolanos apostam na ourivesaria, estética e venda de bebidas alcoólicas

Segundo constatações da E&M, a maioria dos angolanos com empreendimentos nas ruas 14 e 15 do Mártires de Kifangondo dedica-se ao ofício de estética, mormente salão de beleza (para homens e mulheres), à ourivesaria e à venda de bebidas alcoólicas.

Além destes, contam-se os ‘pouquíssimos’ vendedores ambulantes e outros que se dedicam a trabalhar como funcionários de estabelecimentos comerciais dos cidadãos de outras nacionalidades.

Responsáveis não falam sobre a vida no Mártires

A propósito do tema sobre as comunidades africanas em Luanda, precisamente no Mártires de Kifangondo, a E&M criou caminhos para ouvir a direcção, com sede na rua número 7, adstrita ao maior e mais antigo templo (mesquita), mas não obteve sucesso. 

“Hoje eles não falam. Normalmente atendem de segunda até quinta-feira. Mas também posso garantir que não te vão responder”, afirma o responsável pela segurança do local, que se recusou a revelar qualquer detalhe sobre o assunto.

Insistente, a equipa da E&M tentou conseguir informações oficiais através das mesquitas instaladas na rua 15, sobretudo, ainda assim não obteve sucesso.