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“Não podemos queimar-nos a nós mesmos” - Sousa Jamba apela à lucidez num momento de tensão nacional

Redacção
30/7/2025
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Foto:
DR

Sousa Jamba reconhece que há razões legítimas para o descontentamento, mas chama a atenção para os limites éticos e cívicos da contestação.

Num momento em que Angola enfrenta tensões sociais e económicas crescentes, com episódios de violência e vandalismo a assinalarem o descontentamento nas ruas - desde esta segunda-feira, 28 -, o jornalista e escritor Sousa Jamba lança um apelo à consciência colectiva dos angolanos. No artigo intitulado “Não podemos queimar-nos a nós mesmos”, publicado recentemente nas redes sociais, Sousa Jamba alerta para os riscos da autodestruição e da perda de rumo nacional, colocando o debate sobre a justiça, o protesto e a mudança num registo de responsabilidade e visão de longo prazo.

Ele próprio vítima de guerra - tendo sido obrigado a exilar-se na vizinha República da Zâmbia - o autor começa por recordar a resiliência histórica do povo angolano, numa tentativa clara de despertar o sentimento de pertença e memória colectiva: “Somos um povo que sobreviveu à guerra, ao exílio e à fome – e, mesmo assim, mantivemos intacto o nosso sentido de identidade e dignidade. Não o percamos agora”, apelou, mostrando-se contra a tentação do caos como solução.

Aliás, Sousa Jamba reconhece que há razões legítimas para o descontentamento, mas chama a atenção para os limites éticos e cívicos da contestação. Ou seja, escreveu, “sim, devemos clamar por justiça. Sim, devemos exigir mais e melhor. Mas não nos destruamos uns aos outros no processo. Porque, se o fizermos, um dia acordaremos e descobriremos que já nada resta — nem dignidade, nem ordem, nem comunidade”.

Num contexto de uma economia fragilizada, com altos níveis de desemprego entre os jovens, reflectiu o autor, as consequências são graves, na medida em que a instabilidade social retrai qualquer intenção de investimento estrangeiro país. Para Sousa Jamba, a estabilidade institucional é uma das bases da recuperação económica e da atractividade do país para o investimento externo, sendo que “nenhuma empresa, por mais altruísta que seja, investirá num país que parece estar a autodestruir-se. O investimento exige três coisas: estabilidade, confiança e Estado de Direito”, defendeu.

Apesar da pressão social, devido a problemas como aumento da fome e desemprego,  o autor do texto que vimos citando também desmonta as intenções de certos discursos incendiários que, sob o pretexto de mudança, escondem ambições pessoais. “Sejamos realistas. Tenho idade suficiente para reconhecer que, muitas vezes, os que incitam à insurreição generalizada e ao saque irrefletido estão apenas à espreita, desejosos de assumir o poder e usufruir dos privilégios que hoje condenam”, escreveu Sousa Jamba, defendo que a ruptura total pode abrir portas a algo ainda mais perigoso: o autoritarismo. “O processo institucional de mudança pode ser lento, frustrante, até labiríntico. Mas é através dele que garantimos justiça, estabilidade e equidade. Quando se contorna esse processo, abre-se caminho à arbitrariedade — e, inevitavelmente, ao autoritarismo.

Mas ainda há esperança, segundo Sousa Jamba, que recorda que, se a economia angolana prosperar, todos beneficiarão. “Se há descontentamento com quem governa, existem canais legítimos para o manifestar. A ideia de que é necessário que tudo ruína para que haja mudança é perigosamente ingénua.”

De resto, Sousa Jamba convida à lucidez, à participação consciente e à defesa dos fundamentos do Estado Democrático de Direito.

Leia o texto original completo aqui