Em 2024, a maior empresa de entretenimento do mundo não foi a Disney — foi a Roblox. A plataforma ultrapassou os 70 milhões de utilizadores activos diários e registou receitas superiores às tradicionais casas de média (fonte: Statista, Global Media & Entertainment Report 2024). A maior biblioteca também não esteve em Harvard, mas sim no TikTok, que em 2023 já era a principal fonte de informação para jovens entre os 18 e 24 anos (fonte: Pew Research Center, Social Media and News Consumption 2023).
O que estas plataformas têm em comum não é apenas tecnologia. É o modelo como foram construídas: horizontais, abertas e guiadas pela comunidade. Este é o mesmo tipo de lógica que a Geração Z espera encontrar no mundo do trabalho. Caso contrário, mudam-se rapidamente para outra instituição.
A questão central para qualquer conselho de administração é directa: estamos a construir organizações onde esta geração quer investir o seu talento e, sobretudo, o seu tempo?
A Geração Z não sonha em subir a pirâmide corporativa — quer derrubá-la. Para eles, a autoridade nasce da competência, não do título. A lealdade conquista-se com propósito, não com salário. A transparência não se resume a um relatório ESG, mas a dados concretos sobre impacto ambiental, equidade salarial e diversidade. O Global Gen Z & Millennial Survey da Deloitte (2023) revelou que 59% dos jovens só se sentem comprometidos com empresas que demonstram impacto social mensurável.
Sara, 22 anos, recém-licenciada em Luanda, traduz bem este sentimento: “Não quero passar anos à espera de subir na carreira só porque alguém decidiu que ainda não tenho idade. Quero ser avaliada pelo que consigo entregar, não pelo tempo que estive sentada numa secretária.”
Este desafio é global, mas em Angola tem um peso particular. O país tem uma das populações mais jovens do mundo: mais de 60% da população tem menos de 25 anos (fonte: UNFPA, World Population Prospects Angola 2023). O talento que vai moldar o futuro do mercado de trabalho já está aqui. A questão é se as nossas empresas estão preparadas para o ouvir.
Algumas práticas já apontam caminho. O chamado shadow board — grupos de jovens com influência real em decisões de produto, cultura e recursos humanos — aumentou a inovação em 30%, segundo o L’Oréal Annual Report 2021. Imaginem o impacto de trazer esta lógica para Angola, onde os jovens não são apenas colaboradores em potência, mas também consumidores e criadores de tendências.
Joel, 24 anos, empreendedor digital, reforça: “A maioria das empresas fala em dar espaço aos jovens, mas poucas escutam de verdade. Quando a nossa opinião não conta, a vontade de ficar lá desaparece.”
É também urgente rever a ideia de “fit” cultural. Em muitas empresas, significa contratar quem se parece com os que já lá estão. Mas o que esta geração procura é o cultural “add”: quem traz novas perspectivas, quem desafia certezas, quem acrescenta valor em vez de apenas se encaixar no molde.
Em Angola, já vemos jovens a preferirem empreender online, criar impacto social ou procurar alternativas no estrangeiro, em vez de se prenderem a modelos que não os inspiram
A tecnologia surge aqui como facilitador. A Inteligência Artificial, a Automação e as plataformas digitais devem libertar as pessoas da burocracia, para que possam reflectir, criar e inovar. Num país onde a produtividade ainda é travada por processos lentos, este é um investimento estratégico, não para vigiar, mas para potenciar.
Luís, 23 anos, programador em Benguela, resume-o assim: “A tecnologia deve servir para dar-nos tempo para pensar e criar, não para controlar cada minuto do que fazemos.”
A grande mudança é silenciosa. A Geração Z não protesta em frente às sedes corporativas. Simplesmente não se candidata. Não se envolve. Não consome marcas que não reflectem os seus valores. Em Angola, já vemos jovens a preferirem empreender online, criar impacto social ou procurar alternativas no estrangeiro, em vez de se prenderem a modelos que não os inspiram.
No século XXI, a função suprema de um conselho de administração já não é apenas maximizar o valor para o accionista. É criar uma organização que uma geração inteira considere digna do seu talento e do seu tempo.
O futuro da governação não se escreve em actas. Escreve-se no código de cultura que decidirmos adoptar hoje.
*Gestor Bancário | Membro do Instituto Português de Corporate Governance

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