1. Cabo Verde comemorou 50 anos da Proclamação da sua independência e fê-lo com actos públicos simbólicos de uma democracia em adiantado estado de maturação.

2. O Acto Central das Comemorações teve lugar na Assembleia Nacional, ilustrando a pluralidade de representação democrática da República, dando-se voz e vez a representantes dos 3 partidos políticos com assento parlamentar. Cada representante partidário fez livremente a sua leitura política sobre o percurso do país nos últimos 50 anos.

3. A democracia cabo-verdiana vive um momento desafiador, com o Presidente da República eleito pelo partido herdeiro histórico do PAIGC de Amílcar Cabral, que teve o privilégio da Proclamação da Independência Nacional a 5 de Julho de 1975.

4. O Governo é da responsabilidade de um dos partidos políticos constituídos após a Independência. Daí ter sido muito fácil perceber as diferentes abordagens que cada Partido foi fazendo sobre os 50 anos agora esgotados. Tudo isso aconteceu em convívio salutar e democrático.

5. Porém, não foi difícil perceber o modo como os três partidos políticos que intervieram decidiram interpretar o papel que a história deve reservar ao partido fundador da Independência – o PAIGC – e também a Amílcar Cabral, seu líder histórico.

6. O partido que hoje governa Cabo Verde, o MpD (Movimento para a Democracia), fez questão de dar relevância à importância histórica do seu Líder Fundador, no processo de democratização do país, o Dr. Carlos Veiga. Foi notório o modo como procurou deixar Amílcar Cabral para um plano mais secundário, alegadamente por o PAIGC, durante os primeiros anos de Independência, ter exercido o poder de modo solitário – como Partido/Estado – e autoritário, uma herança transmitida ao seu herdeiro histórico, o PAICV.

7. Penso não ser muito justo cobrir de nuvens o legado histórico de Amílcar Cabral, pois o seu exercício político directo aconteceu num contexto completamente distinto do actual. Amílcar Cabral liderou com firmeza e abnegação a Luta de Libertação de dois povos irmãos, Guiné-Bissau e Cabo Verde, nunca tendo dado sinais de que, caso viesse a governar, se tornaria um Líder Autoritário.

8. O legado de Amílcar Cabral não pode ficar manchado por actos que não cometeu. Ele é inesquecível e inesgotável, e deve ser preservado para a História como o inspirador da Luta para a criação de dois Países independentes!