Num tempo em que o instantâneo ameaça eclipsar o permanente, e a miragem do rápido ofusca a substância do duradouro, o investimento público emerge como a última trincheira contra a tirania do efémero.
Não se trata de mero dispêndio de recursos, mas da suprema arte de tecer o destino colectivo – uma alquimia que transforma o ouro do erário em alicerces de eternidade.
Primeiro Pilar – Visão Estratégica: A Bússola do Destino Colectivo
A verdadeira grandeza mede-se pela capacidade de olhar para além do horizonte eleitoral. Enquanto muitos governos sucumbem à tentação do imediatismo, as nações visionárias plantam oliveiras cuja sombra nunca chegarão a usufruir.
O Túnel de Base de Brenner, escavado sob os Alpes entre a Áustria e a Itália, é mais do que uma proeza de engenharia: é testemunho silencioso de que as grandes civilizações pensam em séculos, não em legislaturas. Com os seus 55 quilómetros de extensão, esta obra faraónica reduzirá o tempo de transporte entre Munique e Verona em 70%, reescrevendo a geografia económica da Europa Central.
Em Portugal, o interminável debate sobre o novo Aeroporto de Lisboa tornou-se um teste de maturidade nacional. Precisamos decidir se seremos arquitectos do futuro ou espectadores do declínio. Como alerta o Relatório de Competitividade Global do Fórum Económico Mundial (2023), as nações que negligenciam infra-estruturas críticas condenam-se à irrelevância económica.
Segundo Pilar – Rigor Técnico: A Espada Contra a Ignorância
Não há maior acto de amor à pátria do que exigir excelência técnica. Singapura, outrora um território pantanoso e pobre, transformou-se num centro logístico global porque compreendeu que o desenvolvimento é filho da ciência, não da demagogia.
O Porto de Singapura, que hoje movimenta 37 milhões de contentores anuais, nasceu de estudos hidrográficos meticulosos e de modelos de previsão matemática que fariam corar qualquer improviso.
Em Angola, a Barragem de Laúca reflecte o mesmo compromisso com o conhecimento. Os seus 2.070 megawatts de capacidade não resultaram de inspiração momentânea, mas de décadas de estudos geológicos e hidrológicos. O Relatório do Banco Mundial sobre a Governação das Infra-estruturas (2023) é claro: cada dólar investido em estudos técnicos prévios economiza dez em correcções de rumo.
Terceiro Pilar –Integridade Absoluta: O Escudo Contra a Corrupção
Nenhum pilar é mais fundamental do que a probidade. A corrupção não é apenas imoralidade: é terrorismo económico que destrói o tecido social e envenena o poço da confiança colectiva.
A expansão do Metro de Lisboa, entre 2020 e 2023, demonstrou que é possível executar megaprojectos com transparência radical. O seu sistema de auditoria em tempo real, elogiado pelo Tribunal de Contas Europeu (Caso 147/2022), deveria servir de modelo a todas as obras públicas.
O caso moçambicano das dívidas ocultas de 2016 mostra o reverso da medalha: 2,2 mil milhões de dólares desviados de projectos de pescas e protecção costeira mergulharam o país numa crise da qual ainda não recuperou.
Como sublinha o Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional (2023), não há desenvolvimento possível onde o património público é saqueado.
Quarto Pilar –Patriotismo Económico: A Alma do Desenvolvimento
O verdadeiro amor pátrio manifesta-se na coragem de privilegiar o interesse nacional sobre as conveniências políticas.
A Barragem de Laúca gerou 15.000 empregos angolanos, porque compreendeu que desenvolvimento significa capacitação local, não importação de competências. A sua taxa de 80% de mão-de-obra nacional não foi acidente, mas desígnio estratégico.
No Brasil, o programa Água para Todos levou saneamento básico a 12 milhões de cidadãos, colocando pessoas acima de estatísticas. A redução de 18% na mortalidade infantil (UNESCO, 2023) comprova que o verdadeiro desenvolvimento mede-se em vidas melhoradas, não em metros cúbicos de betão.
Quinto Pilar – Legado Sustentável: A Ponte para as Próximas Gerações
O investimento público deve ser avaliado pela sua capacidade de servir aqueles que ainda não nasceram.
A Noruega compreendeu este princípio ao converter o petróleo num Fundo Soberano de 1,4 biliões de dólares, destinado a financiar educação e saúde por gerações. O relatório Future Generations (2023) demonstra como recursos finitos podem transformar-se em rendimento perpétuo.
Em Portugal, os fundos do Plano de Recuperação e Resiliência representam mais do que uma injecção financeira – são um teste civilizacional. Cabe-nos escolher entre espalhar migalhas eleitoralmente convenientes ou erguer as fundações do Portugal de 2050.
Conclusão – O Momento da Decisão
Vivemos um ponto de viragem histórico. A crise energética, a revolução digital e a transição ecológica exigem respostas ousadas. Os cinco pilares aqui propostos não são teoria – são mandamentos colhidos da experiência histórica das nações que souberam crescer sem se perder.
A história não julgará os nossos governantes pelo número de inaugurações, mas pela qualidade do legado que deixarem.
Que tenhamos a sabedoria de construir catedrais de desenvolvimento, e não monumentos ao ego.
O futuro de um país –ou de uma região – depende dessa escolha.
*Delegado Provincial de Finanças do Moxico e membro da Bolsa de Articulistas do MINFIN
Fontes Consultadas
– Banco Mundial: “Governance of Infrastructure Report” (2023)
– Fórum Económico Mundial: “Global Competitiveness Report” (2023)
– Tribunal de Contas Europeu: “Case 147/2022 – Infrastructure Transparency”
– UNESCO: “Sustainable Development Goals Monitoring” (2023)
– Transparência Internacional: “Corruption Perception Index” (2023)
– Governo da Noruega: “Future Generations Fund Report” (2023)

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