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Para cá do petróleo: a agricultura como base do desenvolvimento em questão

Fernando Pacheco
11/11/2025
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Foto:
DR

Apesar dos constrangimentos, a grande expectactiva dos angolanos era vencer rapidamente as desigualdades e outras heranças do colonialismo e percorrer o caminho da justiça social.

Ao chegar à independência, Angola estava profundamente destruída no seu tecido institucional e económico por abandono da maioria dos portugueses que o dominavam, pela sabotagem do aparelho produtivo perpetrado por bom número deles e pela guerra civil que despontava.  O País produzia menos de 25 mil barris de petróleo por dia e o seu preço andava à volta dos 12-14 dólares norte-americanos. Em 1973, o petróleo havia desalojado o café do primeiro lugar das exportações angolanas e representava já cerca de 30% do seu valor total. Apesar dos constrangimentos, a grande expectactiva dos angolanos era vencer rapidamente as desigualdades e outras heranças do colonialismo e percorrer o caminho da justiça social e de uma prosperidade que servisse de exemplo a outros países africanos.

Em 1975 Angola era um país predominantemente rural, com apenas 15% da população a viver em áreas urbanas. Isso representava, teoricamente, que para um consumidor urbano de produtos agrícolas havia pelo menos quatro produtores rurais, um elemento a ter em conta quando se compara a situação alimentar da época com a actual. Com o aparelho produtivo destruído, recursos humanos limitados e sem empresários e serviços funcionais, fez sentido a definição pelo MPLA que a agricultura deveria ser a base do desenvolvimento económico e social do jovem país nascente, dada a importância dos camponeses na produção, principalmente de alimentos, no período imediatamente anterior à independência.

Contra o que seria natural, a estratégia foi baseada na criação de empresas estatais e cooperativas de produção, inspirada no modelo soviético

Porém, essa definição não foi complementada com estratégias adequadas ao desenvolvimento agrícola, quer as intrínsecas ao sector, quer as relacionadas com sectores conexos, nomeadamente o comércio e a indústria. A opção revolucionária de então – alicerçada na aliança operário-camponesa como força dirigente e principal – exigiria o estabelecimento de um pacto entre o Estado e o partido que o dirigia, de um lado, e os camponeses, do outro, por forma a permitir e garantir o envolvimento e participação efectiva destes, tanto na definição das políticas a vários níveis, como na sua implementação. Não se teve em conta que os camponeses angolanos tinham uma tradição secular de produção de excedentes para satisfação de necessidades de vários tipos. Contra o que seria natural, a estratégia foi baseada na criação de empresas estatais e cooperativas de produção, inspirada no modelo soviético, por influência ideológica exacerbada por uma corrente radical com particular protagonismo na época.  

O ano de 1978 foi considerado Ano da Agricultura – por ironia viria a ser um ano de forte estiagem – esperando-se mobilizar o país para a batalha da produção, principalmente alimentar. Os primeiros resultados foram pouco animadores. Assistiu-se, logo, a uma prática muito nociva. Sem avaliações que permitissem correcções pertinentes, decidiu-se, simplesmente, que se tratava de má aplicação da teoria. Substituíram-se pessoas e insistiu-se no erro.

Leia este texto na íntegra na edição 'Especial Independência' da revista Economia & Mercado, já disponível nas bancas.