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PCA da EMIS e o País dos últimos 25 anos: Paz, sim, mas também desigualdades, desemprego, indisciplina fiscal…

Victória Maviluka
4/10/2024
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Foto:
Andrade Lino

Esta entrevista ao PCA da EMIS ‘toca’ nos mais importantes assuntos da vida socioeconómica do País: a maldição dos recursos, o vício pelas divisas, a inflação, o desemprego…

José Gualberto Matos é um homem com opinião própria. A idade, a experiência e a intelectualidade permitem-lhe ler os fenómenos sociais e económicos com particular profundidade. Levanta problemas e sugere soluções.

Actua no sector financeiro, na Empresa Interbancária de Serviços, a EMIS, de que é Presidente do Conselho de Administração. Mas é a Educação que consome grande parte desta conversa, centrada n’Angola dos últimos 25 anos, a idade da revista Economia & Mercado.

Como ponto de partida da entrevista, o também colunista da E&M e membro do seu Conselho Editorial identifica três grandes ganhos: a Paz, conquistada em 2002; a pacificação dos espíritos e a extensão da administração do Estado a todo o território nacional.

“Acho que houve um esforço muito grande no sentido de preservar o Estado, manter o Estado vivo em todas as parcelas do território”, convicto, assinala.

E continua a discorrer sobre o País mais optimista nesse percurso de duas décadas e meia: “Podemos dizer que o sistema financeiro tem, hoje, ainda debilidades, é verdade, mas evoluímos muito”.

Já não é tão animado quando o ‘sumário’ é… Educação. Diz que, nos últimos 25 anos, este determinante sector “cresceu muito”… mas na horizontal, e não “suficientemente na vertical”.

Explica-se, de forma contundente: “Quando se faz da Educação um negócio, não é que seja mal, tem que se garantir uma elevada regulação. Acho que não se teve tão bem, porque não creio que tenhamos a qualidade e a quantidade de professores universitários para ter 45 ou 50 estabelecimentos de ensino superior”.

Por conseguinte, defende que o Estado “tem que gastar mais com as pessoas e um bocadinho menos com infra-estruturas”, porquanto entende que “o desenvolvimento não é apenas betão”. 

Na conversa com o jornalista Sebastião Vemba, director da revista E&M, o PCA da EMIS reforça que o maior desafio da governação é melhorar as condições de vida dos angolanos. E, nesse aspecto, sentencia: “Acho que a desigualdade se acentuou”. 

Especifica que a repartição dos rendimentos “piorou”, pois que, “se a população cresce a 3% ou 3,2% ao ano, e se a geração de riqueza, ou seja, o PIB, cresce a 1%, a população fica mais pobre. Portanto, há desigualdade, e essa desigualdade na distribuição de rendimentos é, provavelmente, um dos problemas mais acentuados que temos”.

José Gualberto Matos realça que, no País, há uma certa tendência de se gastar mais em infra-estruturas que, muitas vezes, “não são necessárias”. 

Mas esta inclinação não é um mero acaso, já que afirma, à guisa de denúncia, que as infra-estruturas dão lugar à possibilidade de “fazer comissionamento”. 

“Os salários não dão essa possibilidade [de comissionamento]. (...) Acho que o gasto público em infra-estruturas está inflacionado. Eu não quero dar um número, mas a minha estimativa é que estará inflacionado de 150% a 200%”, perspectiva.

Engenheiro José Gualberto Matos, Presidente do Conselho de Administração da Empresa Interbancária de Serviços

“Investimento não é o mesmo que financiamento”

José Gualberto Matos, Presidente do Conselho de Administração da Empresa Interbancária de Serviços, fala, também, da agricultura e da necessidade de uma produção em escala, que conte, impreterivelmente, com o envolvimento do sector privado, associado ao Estado.

Mas, diante de tanto discurso sobre investimentos na agricultura, o entrevistado do 12.º episódio da rubrica ‘Conversas E&M - 25 anos’, disponível aqui, esclarece que “investimento não é o mesmo que financiamento”.

“Nós, muitas vezes, fazemos iniciativas na agricultura, e dizemos que o país tal investiu não sei quanto, mas não investiu, emprestou o dinheiro”, atira.

E o que há mais em Angola? “Só temos investidores que investem em actividades de rápido retorno. Qual é a actividade de rápido retorno? É o comércio. Todos estes investidores que aparecem por aí só querem entrar no comércio, fazer o trading, o lobby da importação”. 

Afirma, aliás, que “o maior inimigo” da diversificação económica “é o trading” associado à importação: “De uma vez por todas, temos que passar a ser um País normal do ponto de vista da moeda e do ponto de vista do sistema de Justiça”.

Aeroportos no lugar de estradas: O risco da insularidade

Nesta Grande Entrevista à E&M, que pode acompanhar aqui, José Gualberto Matos, PCA da EMIS, aborda, sempre de forma contundente, a maldição dos recursos minerais, o vício do País pelas divisas e a implicação da qualidade das despesas na inflação.

Mas fala, igualmente, dos riscos da protecção do emprego com a nova Lei Geral do Trabalho, da necessidade de uma tarifa social de Internet e Energia e do risco de insularidade provocado por desinvestimentos nas estradas em detrimento de aposta em aeroportos.