Celebrado a 18 de Junho de 2025, em Luanda, o Acordo de Luanda representa um ponto de viragem para a indústria diamantífera. Pela primeira vez, governos dos países africanos produtores de diamantes e as principais organizações da indústria uniram-se em torno de uma visão comum: defender a autenticidade, o impacto social e o valor económico dos diamantes naturais num cenário marcado pela ascensão dos diamantes sintéticos e pela fraca procura global.
Neste contexto, o Acordo de Luanda estabelece que cada signatário contribuirá com 1% da sua receita bruta anual proveniente da venda de diamantes brutos para financiar uma iniciativa global de Marketing, sob liderança do Natural Diamond Council (NDC), organização sem fins lucrativos dedicada a educar e inspirar consumidores sobre os valores que tornam os diamantes naturais únicos. Este compromisso financeiro partilhado constitui uma resposta às narrativas que enfraquecem o segmento dos diamantes naturais e uma aposta firme na construção de um futuro sólido para a indústria.
Do ponto de vista estratégico e com base nas dinâmicas actuais da indústria, destacam-se quatro razões essenciais que justificam a criação e impacto do Acordo de Luanda:
1. Defesa da autenticidade, valor intrínseco e legado dos diamantes naturais
Num mercado cada vez mais saturado por alternativas sintéticas e narrativas agressivas contra os diamantes naturais, torna-se imperativo defender o seu legado, bem como o impacto económico e social que geram ao longo de toda a cadeia de valor, da mineração à joalheria. O Acordo de Luanda surge como um escudo em defesa da autenticidade, da proveniência e do valor simbólico e económico que apenas um diamante natural carrega.
O objectivo é garantir que o consumidor continue a reconhecer o diamante natural como um bem único, duradouro e com história. E, mais do que isso, de o consciencializar de que, ao adquirir uma joia com diamante natural, está a proteger um legado enraizado em Antuérpia, com todos os seus efeitos multiplicadores; a financiar hospitais, estradas e programas de conservação natural no Botswana; a sustentar fábricas de lapidação, escolas, habitação social e outras infraestruturas sociais em Angola; a assegurar milhares de empregos na Índia; e a contribuir para um mercado de joalheria que movimenta cerca de 91,5 mil milhões de dólares e mantém mais de 193 mil postos de trabalho nos Estados Unidos, onde o diamante natural também tem uma importância económica significativa.
2. Combate a desinformação e a fragmentação da narrativa global
Em Maio de 2021, a Pandora anunciou que deixaria de usar diamantes naturais nas suas colecções, adoptando exclusivamente diamantes sintéticos, alegando preocupações de sustentabilidade e ética. Esta posição, embora controversa, ganhou destaque e expôs a fragilidade da narrativa da indústria em defesa dos diamantes naturais.
O Acordo de Luanda é, portanto, uma resposta a esse tipo de desinformação, promovendo uma mensagem coesa e baseada em factos. Como afirmou a Ministra dos Recursos Minerais e Energia do Botswana, Bogolo Joy Kenewendo, que “ao unirmo-nos, estamos a enviar uma mensagem convincente de que o futuro dos diamantes naturais reside na ambição, na transparência e no compromisso de contar a nossa história ao mundo.” E é precisamente essa história que importa reforçar, da mina até ao brilho no dedo.
3. Criação de um fundo comum de marketing genérico
O fundo estabelecido no Acordo de Luanda, com previsão de arrecadar mais de 80 milhões de dólares por ano, representa uma iniciativa sem precedentes. Este valor será destinado às campanhas de marketing e educação dos consumidores, com foco especial na Geração Z - um público nativamente digital, que cruza informações e valoriza propósito, ética e o impacto social e ambiental da actividade mineira.
Através do NDC, o fundo promoverá conteúdos educativos sobre a origem, a rastreabilidade e o impacto positivo dos diamantes naturais nas comunidades produtoras, fortalecendo o vínculo entre o consumidor moderno e os valores que sustentam esta indústria.
Este passo concreto responde a um apelo antigo. Já em 2024, durante a Conferência Internacional de Diamantes do Dubai, a Federação Mundial de Bolsas de Diamantes (WFDB) alertava que a indústria precisava unir esforços e investir mais recursos financeiro na promoção dos diamantes naturais, sobretudo perante os desafios que se acumulam há mais de três anos. O Acordo de Luanda, nesse contexto, materializa uma resposta colectiva e coordenada a esse apelo.
4. Governança partilhada
Apesar de o slogan “A Diamond is Forever” criado em 1947 pela agência N.W. Ayer & Son para a De Beers, ter moldado durante décadas a percepção emocional dos diamantes naturais, associando-os indissociavelmente ao amor eterno e ao compromisso, essa estratégia era conduzida por uma única empresa. Apenas com a criação do Natural Diamond Coucil em 2015 (originalmente Diamond Producers Association), criada por sete mineradoras, a De Beers, Alrosa (que suspendeu a sua participação e apoio financeiro em 2022), Rio Tinto, Petra Diamonds, Dominion Diamond Mines, Lucara Diamond, e RZM Murowa, é que outros actores começaram a participar da narrativa de marketing genérica.
Até então, não havia envolvimento directo dos países africanos produtores em campanhas globais de promoção dos diamantes naturais. Essa lacuna foi enfrentada com a assinatura do Acordo de Luanda, que, como afirmou o Ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás de Angola, Diamantino Pedro Azevedo, representa o fim das “narrativas global com base de centros de influência isolados.”
O Acordo estabelece uma nova estrutura de governação inclusiva, envolvendo todos os actores da cadeia de valor: os principais países produtores africanos - Angola (com a ENDIAMA e SODIAM como membros efectivos do NDC desde 1 de Julho de 2025), Botswana, África do Sul, Namíbia, RDC e Serra Leoa -, juntamente com organizações da indústria como o DMCC, AWDC e GJEPC, e a De Beers, assumem agora um papel activo na construção de uma narrativa compartilhada.
Conclusão
O Acordo de Luanda não é um fim, mas o início de uma nova etapa. Uma etapa que desafia status quo e oferece uma resposta coesa às transformações na indústria. É um compromisso partilhado, que convida outros actores, da mineração à joalheria, a juntarem-se a este esforço. Mais do que um investimento colectivo, é uma afirmação de identidade e de propósito da indústria que agora se expressa numa só voz.

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