A probabilidade da diminuição da precipitação e do aumento das temperaturas pelo impacto do El Niño, um fenômeno associado à seca dos últimos anos no Sul de Angola, é de 60% até Março, avança, nesta terça-feira, 05, a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Na mais recente actualização sobre o comportamento do fenómeno, a que a agência Lusa teve acesso, a OMM informa que o El Niño, um dos responsáveis pelo aumento das temperaturas, vai continuar no decurso deste mês, embora possa terminar entre Abril e Junho próximo, depois de ter atingido o pico em Dezembro de 2023.
A organização prevê, assim, que o El Niño, começado em meados de 2023 e que normalmente dura entre nove e 12 meses, vai continuar a afectar o clima global nos próximos meses.
A previsão da OMM aponta para 60% de probabilidades de estas condições persistirem de Março a Maio e 80% de probabilidades de as condições meteorológicas se tornarem neutras (sazonalmente neutras, sem impacto do El Niño) de Abril a Junho deste ano.
A agência da ONU, sediada em Genebra, espera que a continuação do El Niño, embora mais fraco, associado à previsão de temperaturas à superfície do mar invulgarmente elevadas na maior parte dos oceanos do mundo, resulte em temperaturas acima do normal na maior parte das zonas terrestres nos próximos três meses e influencie os padrões regionais de precipitação.
Cunene, Huíla e Namibe, as principais ‘vítimas’
A redução das precipitações resultantes da mais nova vaga do fenómeno El-Niño havia sido tema de um artigo científico, publicado nos finais do ano passado, pelo IPMA (Instituto Português do Mar e da Atmosfera) e pelo angolano INAMET (Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica).
No trabalho, elaborado com o apoio do FRESAN (Programa financiado pela União Europeia e co-gerido pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua), previu-se que, durante a época das chuvas 2023/24, devido à previsão de intensificação do El-Niño, ocorreria uma redução da precipitação e um aumento da temperatura nas regiões do Sul de África, que poderiam englobar determinadas regiões do Sul de Angola, como as províncias do Cunene, da Huíla e do Namibe.
“Meses com forte El-Niño tendem a registar valores negativos de anomalias de precipitação e valores positivos de anomalia de temperatura em grande parte do Sul de África, prejudicando bastante a agricultura da região”, referiu o estudo.
Observou que, em Angola, o impacto da precipitação “não é tão óbvio”, existindo regiões mais afectadas por “ausência de precipitação no Sul e excesso de pluviosidade no Norte”.
Um fenómeno associado à praga de gafanhotos
Já várias vezes a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) conjecturou a influência das chuvas fortes e generalizadas, motivadas pelo fenómeno El Niño, no surgimento de pragas nas zonas desérticas de África e no Oriente Médio.
Há duas semanas, tal como noticiou a revista Economia & Mercado, as autoridades da província da Huíla, em Angola, informaram que 50 hectares de culturas agrícolas foram destruídos no município dos Gambos, por uma praga violenta de gafanhotos.
A primeira praga de gafanhotos na província registou-se em Maio de 2021, durante a qual foram prejudicados mais de 200 hectares de culturas agrícolas, sobretudo na Humpata, Chibia e Lubango.
O fenómeno, na altura, entrou em Angola pela província do Cuando Cubango, passou pelo Cunene, Namibe e Benguela, chegando à Huíla, descreveu a agência Angop.

‘El Niño’ devasta campos agrícolas e Zâmbia declara catástrofe nacional
Mais de um mês sem chuva, campos agrícolas devastados e mais de um milhão de famílias afectadas. Eis os estragos provocados pelo fenómeno ‘El Niño’, que levaram a que as autoridades da Zâmbia declarassem, na semana passada, catástrofe nacional.
Hakainde Hichilema, Presidente zambiano, dirigindo-se à nação, informou que cerca de metade da área cultivada em todo o país foi destruída pela “seca prolongada”, causando “catástrofe nacional".
Há já cinco semanas que não cai chuva nos campos agrícolas da Zâmbia e a previsão dos serviços meteorológicos do país apontam para a prolongação da seca por mais algumas semanas.
"A destruição causada por este período prolongado de seca é imensa", descreveu Hakainde Hichilem, acrescentando que a crise provocada pelas alterações climáticas e pelo fenómeno meteorológico ‘El Niño’ está a ameaçar a segurança alimentar.
Referiu que, por força da seca, o país vive limitações no abastecimento de água e energia, porquanto a Zâmbia está fortemente dependente da hidroelectricidade.
O Presidente zambiano assegurou, citado pela agência Lusa, que será disponibilizada ajuda humanitária para garantir que as pessoas não passem fome e que o Governo está a considerar a importação de mais electricidade e o racionamento de energia.
O fenómeno climático natural ‘El Niño’, que reapareceu em meados de 2023, provoca geralmente um aumento das temperaturas globais durante um ano. Actualmente, está a provocar um calor recorde e incêndios em todo o mundo.

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