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A "mentira" da diversificação

Sebastião Vemba
19/10/2018
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Foto:
Carlos Aguiar

Ao contrário de uma efectiva diversificação da economia, nos últimos anos, Angola tem registado uma diminuição contínua do peso do sector petrolífero no PIB, devido à baixa do preço desta commodity...

Ao contrário de uma efectiva diversificação da economia, nos últimos anos, Angola tem registado uma diminuição contínua do peso do sector petrolífero no PIB, devido à baixa do preço desta commodity no mercado internacional, sem que, entretanto, o sector não-petrolífero ganhasse mais fôlego, de modo a que funcionasse como o contrapeso da balança. Para os analistas, o que faltou foi uma visão correcta de desenvolvimento, daí que a economia quase não se tenha diversificado.

o reforço da diversificação e de aumento da produção nacional implicará acções de política que concorrem para a dinamização do sector privado da economia e para a optimização do sector empresarial público. De igual modo, no âmbito do Programa de Reforço da Diversificação e de Aumento da Produção Nacional, será prioridade a “melhoria do ambiente de negócios”, assim como acções de política “que concorrem para o aumento da produtividade e competitividade nacional”, e para o aumento do investimento directo estrangeiro.

Para o presidente da Associação dos Empreendedores de Angola, Jorge Baptista, em entrevista ao jornal “Economia & Finanças”, “os negócios são vocação dos empreendedores e não do Estado”. O empresário, que falava sobre o sector industrial no país, afirmou que “os pilares do desenvolvimento não funcionam e são controversos e cheios de vícios”. Ainda segundo Jorge Baptista, “a industrialização não avançou por falta de visão, competência e desvios de objectivos”. Assim sendo, prosseguiu, “é necessário parar para rever o que falhou e idealizar outras metas”, pois “é vergonhosa a realidade do parque industrial nacional, mas é possível reverter a situação com vontade e sem muitas curvas e contracurvas”.

Por sua vez, o agrónomo e consultor Fernando Pacheco, também em entrevista ao mesmo jornal, concordou que “faltou sobretudo uma visão correcta sobre o que é o desenvolvimento” e, mais grave ainda, “caiu- -se na armadilha da doença holandesa”, que resulta da excessiva dependência de um único recurso mineral. Ainda segundo o também coordenador do Observatório Político e Social de Angola (OPSA), esqueceu-se que a ideia que vinha passando, de que “a agricultura é a base e a indústria o factor decisivo do desenvolvimento de Angola, mantém-se actual, não apenas para diversificar a economia, mas também para que essa diversificação fosse sustentada e gerasse emprego de cada vez de maior qualidade”, defendeu.

Condições para a diversificação

De acordo com o relatório “Estudos sobre a Diversificação da Economia Angolana”, do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola, “os sectores que têm vindo a ter algum dinamismo na economia angolana são o comércio, os transportes, a agro- -indústria e os serviços. Esse impulso resulta dos investimentos públicos e da tendência de diversificação económica promovida pelas autoridades angolanas para reduzir a dependência em relação ao petróleo”.

Segundo o mesmo relatório, “Angola dispõe de recursos e de um potencial natural que lhe possibilitam assentar uma estratégia de desenvolvimento fora do sector do petróleo”. No sector industrial, lê-se ainda, “mas também no sector primário, com recurso dos minérios, da agricultura, da pesca e do sector florestal”.

O documento do CEIC reconhece uma série de condições criadas para a diversificação da economia angolana, nomeadamente através da industrialização (Zonas Económicas Especiais – ZEE), mas antes por meio da dinamização do sector primário (linhas de crédito bonificado no âmbito do Angola Investe, que em um ano e meio permitiu a criação de cerca de três mil empregos), mas lamenta que o país não tenha traçado estratégias de forma a ligar projectos económicos com os sistemas de transporte que estavam a ser construídos por empresas chinesas.

“O caminho-de-ferro, com a consolidação de três eixos ferroviários, apresenta-se como um factor de desenvolvimento económico, de coesão territorial e de diminuição das assimetrias regionais”, lê-se no estudo editado por Alves da Rocha, Francisco Paulo, Luís Bonfim e Regina Santos.

Segundo os pesquisadores, “a dinâmica ligada à actividade de transporte de mercadorias, de mobilidade de pessoas e de serviços pode conferir maior integração ao mercado interno e daí ao desenvolvimento da agricultura”.

infra-estruturas e equipamentos caros e não sabermos tirar partido deles?”, questionou-se, tendo acrescentado que “o importante não é apenas cultivar, mas sim a produtividade das culturas”.

De acordo com o relatório “Estudos sobre a Diversificação da Economia Angolana”, desenvolvido pelo CEIC em 2016, “o caminho para a diversificação exige tarefas essenciais, como a estabilização económica, a criação de condições para o ambiente empresarial favorável, um sistema financeiro ágil e a melhoria das infra-estruturas e dos recursos humanos, mas sobretudo relativas à actuação do Estado”. O documento acrescenta ainda que “Angola tem necessidade crítica de capacidades e habilidades para o desenvolvimento industrial e agrícola. O desafio é, portanto, expandir a base económica estimulando sectores não-petrolíferos e ao mesmo tempo assegurando que a sua força de trabalho seja parte fundamental desse esforço”, uma vez que, o “sector petrolífero gera riqueza sem criar emprego e os jovens carecem de emprego”.

Entretanto, para Fernando Pacheco, é importante “avaliar os erros, analisar correctamente a realidade e definir políticas mais sensatas”, que tenham em conta as características dos agricultores nacionais e empresários de todos os sectores envolventes da agricultura.

Leia o artigo completo na edição 160 da E&M

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