Uma decisão do Congresso Nacional Africano (ANC) de formar uma coligação governamental com partidos radicais na África do Sul corre o risco de pôr em risco a estabilidade macro-económica do país, alertou a agência de classificação Fitch Ratings.
O ANC, partido de Nelson Mandela, perdeu, pela primeira vez em 30 anos, a maioria na Assembleia Nacional, ao obter apenas 40% dos votos expressos nas últimas eleições legislativas.
Enfraquecido durante estas eleições altamente contestadas, o ANC é forçado a fazer alianças com outros partidos políticos para formar um governo de coligação.
Na sua mais recente perspectiva, a Fitch destacou que a próxima configuração governamental sul-africana, que deverá surgir na sequência de negociações políticas em curso, poderá ter implicações significativas para a estrutura macro-económica do país.
A agência refere que um pacto com partidos populistas de esquerda ‘umKhonto weSizwe (MKP)’, do ex-presidente Jacob Zuma, e os Combatentes pela Liberdade Económica (EFF) poderia representar riscos adicionais para a trajectória da dívida do país, que já enfrenta dificuldades orçamentais significativas.
A Fitch observa que ambos os partidos propõem políticas radicais, como a expropriação de terras, a nacionalização de sectores-chave da economia e o fim da consolidação fiscal, pelo que uma aliança com estas formações políticas poderia desencadear um enfraquecimento da confiança generalizada dos investidores e uma erosão da governação.
Os investidores e a comunidade empresarial estão, assim, preocupados com a aproximação de novas perturbações nos mercados financeiros após as eleições legislativas de 29 de Maio, segundo especialistas sul-africanos, citados pelo portal Le360.
“A África do Sul está numa encruzilhada”, diz Anne Frühauf, directora-geral do grupo de consultoria de risco ‘Teneo’, observando que a incerteza permanece enquanto todos os resultados da coligação são possíveis, sendo a dinâmica interna do ANC um factor determinante na escolha da política e alianças que traçarão o futuro do país.
A directora da Federação das Empresas Sul-Africanas (BLSA), Busisiwe Mavuso, sublinhou que a África do Sul precisa de um governo estável, capaz de recolocar a economia nos trilhos, a fim de criar empregos e receitas fiscais.