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Luanda sob caos sem fim à vista

Victória Maviluka
29/7/2025
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Foto:
Carlos Aguiar

Efectivos das FAA reforçam contingente policial para tomar o controlo das ruas de Luanda, numa batalha contra jovens destemidos, consumidos por actos de vandalismo e pilhagem.

Lançado para ser uma manifestação pacífica, o movimento grevista ‘Fica em casa’, de iniciativa da classe dos taxistas, contra, sobretudo, o aumento do preço do gasóleo, rapidamente transformou-se numa onda de violência, que elegeu as ruas de Luanda como palco e o saque a estabelecimentos comerciais a sua principal expressão.

Depois dos episódios de segunda-feira, 28, o primeiro dos três dias de paralisação anunciada pelos ‘azuis e brancos’, a capital do País voltou a despertar agitada nesta terça-feira, com um contingente policial de quase todas as especialidades destacado nas ruas para travar a onda de vandalismo e pilhagem de patrimónios públicos e privados.

Por força da destruição de bens como autocarros e outras viaturas particulares, lojas e demais equipamentos, vários estabelecimentos comerciais e financeiros anunciaram o encerramento temporário das suas instalações, e, com isso, a dispensa de trabalhadores e o condicionamento de serviços.

A onda de vandalismo, acompanhada de barricadas nas estradas, agudizou as dificuldades de mobilidade de muitos cidadãos, que, na manhã desta segunda-feira, enfrentaram sérias dificuldades de transporte, por conta da paralisação dos taxistas, que reclamam, além da subida do litro de gasóleo de 300 Kwanzas para 400 Kz, da necessidade de institucionalização da actividade como profissão.

Municípios como Cacuaco e Viana, que registaram no primeiro dia das manifestações movimentos menos turbulentos, juntaram-se, no segundo dia, às zonas mais críticas, como o Golfe 2, onde as forças de defesa e segurança travam, até aqui, uma batalha para conter o espírito de pilhagem e arruaça que consome centenas de jovens, muitos dos quais encapuzados.

Com vista à reposição da ordem e tranquilidade públicas, efectivos das Forças Armadas Angolanas (FAA) foram chamados para reforçar o contingente policial, tendo a Polícia Nacional dado nota, no seu mais recente balanço, da detenção de mais de 500 cidadãos, quatro mortes (do lado dos manifestantes) e quase 50 lojas saqueadas e destruídas.

O número de vítimas é ainda maior se se considerarem os feridos e os cidadãos que deram entrada nas unidades sanitárias

Entretanto, vídeos partilhados nas redes sociais apontam para um registo de mortes que pode ser muito superior ao apresentado pelas autoridades. O número de vítimas é ainda maior se se considerarem os feridos e os cidadãos que deram entrada nas unidades sanitárias com queixas por inalação de gás lacrimogéneo que continua a invadir as ruas de Luanda de nuvens cinzentas e a penetrar em muitas residências.

A confirmação da paralisação, que desembocou num caso de (in)segurança pública, esteve envolta em polémica na véspera do arranque, com informações desencontradas oriundas de membros das várias associações que congregam esta classe importante na mobilidade de pessoas em todo o território nacional.

A ANATA (Associação Nacional dos Taxistas de Angola), o ‘rosto’ mais visível da proclamação da paralisação, veio a terreiro, através de um comunicado, demarcar-se de “quaisquer actos de vandalismo, banditismo praticado por oportunistas” não associados à organização contra “pessoas inocentes”.

Até ao final da manhã desta terça-feira, não se conhecia ainda nenhuma reacção oficial dos órgãos centrais do aparelho governativo à onda de vandalismo que colocou a capital do País num verdadeiro caos, um quadro ainda sem fim à vista, em face da expansão do fenómeno por outras paragens de Luanda...

Polícia de Intervenção Rápida (PIR) integra o forte contingente policial que tenta devolver segurança às ruas de Luanda

Em nota, o Governo Provincial de Luanda (GPL) mostrou-se perplexo com o espoletar da manifestação, recordando que, à luz de um diálogo que manteve com as principais associações e cooperativas de taxistas, esta paralisação chegou a ser cancelada.

O GPL condena, por isso, “com veemência”, lê-se no documento a que a revista E&M teve acesso, todos os actos de vandalismo, agressões a trabalhadores, destruição de bens públicos e privados, assim como qualquer forma de coação sobre cidadãos que desejam exercer livremente as suas actividades.

Já no termo do primeiro dia das manifestações, o MPLA, através do seu Bureau Político (BP), condenou “energeticamente” as ocorrências que “causaram enormes prejuízos materiais ao Estado, às famílias e às empresas”, considerando estas acções uma forma "deliberada de manchar e dificultar a celebração, com júbilo", dos 50 anos da Independência Nacional.

Quem também reagiu aos incidentes é o líder do maior partido da oposição no País, Adalberto Costa Júnior. Em mensagem, o presidente da UNITA apelou aos cidadãos ao respeito pelas regras de manifestação pacífica, ao mesmo tempo que pediu aos órgãos de defesa e segurança a agirem com imparcialidade, sem “repressão violenta”.