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Marrocos: Britânicos cancelam financiamento e mega-projecto eléctrico submarino quase ‘afoga’

Victória Maviluka
3/7/2025
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Foto:
DR

Marrocos não esconde profunda decepção pela decisão, mas diz que projecto vai continuar, e já estuda novas vias de financiamento, inclusive através do sector privado britânico.

É um duro golpe para um programa que ganhou notável mediatização. A notícia caiu como um verdadeiro ‘balde de água fria’ para as aspirações em relação ao apelidado X-Links: o Governo britânico decidiu cancelar o financiamento para o mega-projecto do cabo eléctrico submarino que ligará Marrocos ao Reino Unido.

Fica, assim, comprometido um importante apoio a rondar os 33 mil milhões de dólares, cancelados por pretextos de Londres de que existem riscos considerados muito altos na aposta no programa; sendo importante na equação uma mudança estratégica britânica em direcção a soluções locais.

É isso mesmo que uma fonte próxima ao projeto confidenciou ao jornal L'Économistena, detalhando que a decisão é o resultado de uma “avaliação completa”, que concluiu que o projecto apresenta um “alto nível de risco inerente”.

Um porta-voz do Departamento Britânico de Segurança Energética e Neutralidade de Carbono (DESNZ) confirmou, ao L'Économiste, a retirada do financiamento, ao mesmo tempo em que insistiu no desejo de Londres de manter uma parceria estreita com o país monárquico africano.

Porém, líquido mesmo é que, do lado britânico, o projecto agora é percebido como menos vantajoso do que o desenvolvimento local de energia renovável, como se pode depreender dos comentários acionais da fonte: “Alternativas de produção doméstica podem gerar maiores benefícios económicos, particularmente em termos de empregos, cadeia de suprimentos e segurança energética”.

O fracasso das negociações teria sido precipitado por um grande obstáculo: a exigência de um contrato de compra a preço fixo para uma quantidade específica de electricidade, independentemente do consumo real, noticia o portal marroquino Le360. 

Essa condição, continua o site consultado pela E&M, mostrou-se problemática, assim como a instabilidade política na Grã-Bretanha, onde quatro governos se sucederam num curto período, cada um com visões contrastantes; em 2023, um executivo anterior havia classificado o projecto como “de importância nacional”.

As preocupações do Governo britânico também se relacionam com a segurança e a viabilidade da infra-estrutura. A protecção dos cabos submarinos representa um desafio logístico e financeiro significativo, de acordo com uma fonte marroquina citada pelo L'Économiste. 

A isso somam-se as crescentes preocupações geopolíticas. O Financial Times, por exemplo, cita uma autoridade britânica que sublinhou a ameaça de interferência estrangeira em oleodutos e cabos estratégicos.

Assim, o governo de Rishi Starmer deixa um sinal claro da sua estratégica aposta em projectos nacionais, alinhados, aliás, com as metas de produção de energia limpa para 2030, com risco mínimo para contribuintes e usuários.

Rabat não ‘joga a toalha ao tapete’

Apesar deste desfalque no programa de financiamento do mega-projecto do cabo elétrico submarino Xlinks, as autoridades marroquinas, que não esconderam a decepção com o cancelamento do apoio, manifestam apostadas em seguir em frente, declarando que o projecto é para continuar.

Iniciado pela empresa Xlinks, o Projecto de Energia Marrocos-Reino Unido tinha como objectivo transmitir 3,6 gigawatts de energia solar e eólica — o equivalente a 8% das necessidades britânicas actuais — da região de Tan-Tan para a Grã-Bretanha. 

O projecto baseava-se num mecanismo de ‘contrato por diferença’, garantindo à Xlinks uma tarifa superior ao preço médio da electricidade britânica. Uma fórmula que não convenceu Londres, escreve o Le360.

Em comunicado, o presidente da Xlinks, Sir David Lewis, afirmou estar “extremamente decepcionado e amargamente surpreso” com a decisão britânica: “Não temos escolha a não ser aceitá-la, mas estamos a trabalhar para explorar o potencial do projecto de outras maneiras. Autoridades em Rabat permanecem optimistas”. 

“O projecto não está fracassado”, acrescentou uma fonte autorizada ao L'Économiste, que avançou que novas vias de financiamento estão a ser exploradas, inclusive por meio de operadores privados britânicos.