IFC Markets Live Quotes
Powered by
3
1
PATROCINADO

Organizações da sociedade civil apelam a cancelamento do jogo com Argentina e carta ecoa na media internacional

Victória Maviluka
25/8/2025
1
2
Foto:
DR

Jogo amigável foi anunciado pelo PR durante um encontro, no ano passado, da massa juvenil do partido MPLA, associando a partida aos festejos dos 50 anos da Independência Nacional.

Várias organizações da sociedade civil angolana endereçaram, recentemente, uma carta aberta aos jogadores da selecção de futebol da Argentina para pedir o cancelamento do jogo amigável com Angola, marcado para Novembro, em Luanda, opondo-se à “ostentação e gastos milionários” envolvidos na organização deste evento. A missiva ganhou destaque na media desportiva internacional.

Jornais como Marca, diário desportivo espanhol, e O Jogo, de Portugal, dedicaram espaço nas suas páginas à carta subscrita por quatro organizações da sociedade civil: Pro Bono Angola, Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD), Friends of Angola (FoA) e Comissão Episcopal de Justiça e Paz e Integridade da Criação da CEAST, esta última afecta à Igreja Católica.

No documento, a que a revista E&M teve acesso, os autores dizem a Lionel Messi e aos jogadores e dirigentes do futebol argentino que o apelo “não se opõe ao desporto nem aos laços de amizade entre os povos”, mas se trata de um “grito de consciência diante da dolorosa realidade vivida por milhões de angolanos”.

Recordam que, apesar de Angola possuir “uma enorme quantidade de riquezas naturais”, como petróleo, minerais, biodiversidade, recursos hídricos e mais de 11 milhões de hectares de terras aráveis, a esmagadora maioria da população “vive em extrema pobreza e não usufruem” dessas riquezas.

Enquanto recursos públicos são canalizados para eventos desportivos de grande porte, milhares de crianças e adultos enfrentam fome crónica

“Enquanto recursos públicos são canalizados para eventos desportivos de grande porte, milhares de crianças e adultos enfrentam fome crónica, anemia severa e insegurança alimentar generalizada”, reforçam os subscritores da carta aberta.

Declaram que investir milhões de dólares num evento desportivo, enquanto milhares passam fome, hospitais colapsam e a repressão se intensifica, não é uma prioridade legítima — “é um insulto à dignidade humana”.

E finalizam com apelo: “Senhor Messi, senhores da AFA [Associação do Futebol Argentino] e jogadores da selecção argentina: o vosso talento inspira milhões e ultrapassa fronteiras. A vossa presença em Angola teria um enorme peso simbólico. Por isso mesmo, a recusa em participar neste jogo seria um gesto nobre de solidariedade internacional e de respeito pelos direitos humanos”.

Anúncio sobre o jogo amigável foi feito por João Lourenço no congresso da JPLA

A partida de futebol entre Angola e Argentina, recorde-se, foi anunciada pelo Presidente da República, durante o congresso da JMPLA, braço juvenil do partido no poder, em Novembro do ano passado, tendo João Lourenço associado o jogo às celebrações dos 50 anos da Independência Nacional.

A propósito deste jogo,  o jornalista português, Rui Almeida, conjecturou um eventual orçamento e questionou a data para o referido jogo: “Para as datas FIFA de 2025, a Argentina já tem todos os jogos marcados, inclusive um jogo na Ásia, cujo valor está em 6 milhões de dólares e pode aumentar com a presença de Lionel Messi. Então, não vejo onde Angola pode encaixar este jogo, cujo convite já foi lançado”.

Não obstante estas dúvidas, o duelo de futebol entre os Palancas Negras e a selecção da Argentina tem ganhado corpo nos últimos meses, com concertações entre a Federação Angolana de Futebol (FAF) e a Associação do Futebol Argentino (AFA). 

Em Abril deste ano, os presidentes das duas instituições desportivas reuniram-se na cidade de Buenos Aires, capital argentina, para tratar de detalhes do jogo marcado para 14 de Novembro próximo. Na ocasião, Alves Simões, líder da FAF, avançou que estava quase garantida a vinda do craque Lionel Messi a Luanda.