Ultimamente, tenho tido contacto, com mais frequência, com a Luanda profunda. Conhecendo minimamente o resto do país, não me atreveria a considerar a capital como a representação das outras províncias, uma vez que os níveis de pobreza atingem o extremo em várias regiões do interior. Por cá, na Cidade da Kianda, vivem-se os dois extremos, nomeadamente, um “Socialmente Desenvolvido” – ou nem tanto – e outro “Socialmente Vulnerável”, com o qual tenho tido contacto, não só através do candongueiro que me transporta para o local de trabalho, mas principalmente, e mais importante, por meio da visita aos bairros pobres de Luanda, dos quais tenho memórias, mas com os quais há muito não lidava regularmente.
E não é necessário fazermos uma viagem demorada, em que o nosso tempo todo é consumido num pequeno troço engarrafado devido aos buracos, às obras infinitas e à indisciplina dos automobilistas, para contactarmos com a realidade dos “Socialmente Vulneráveis”. Em pouquíssimos minutos de caminhada, apercebemo-nos de que a pobreza extrema está a menos de um quilómetro de Talatona. Mas se formos um pouquinho mais aventureiros, enfrentaremos uma realidade muito mais deprimente, como a que se vive no Bairro Nguanhã (Sambizanga) e no Hoji-Ya-Henda (Cazenga), que visitei, várias vezes, por altura da quadra festiva, mas, ao contrário que acontecia antes, nalgumas ocasiões, estive mal acomodado num “Azul-e-Branco”, cujos bancos clamam por substituição.
o combate às assimetrias regionais e à pobreza deve merecer muito mais atenção e deixar de ser, em muitas circunstâncias, apenas um adorno de discurso político para merecer a simpatia das massas.
Apesar de Angola estar a viver um momento único da sua história política, em que a força da esperança nos faz acreditar em dias melhores, cada vez que visito a “Angola profunda” fico com muitas dúvidas em relação às promessas de, em pouco tempo, vencermos a fome que grassa em milhares de lares de angolanos, as doenças que os hospitais e centros médicos não conseguem combater por falta de medicamentos, isto para não falar da corrupção, que é transversal a toda a sociedade, e que limita a nossa capacidade de solucionar os problemas, pois ela fundamenta--se na invenção de dificuldades para vender facilidades.
A começar um novo ano, o Governo tem pela frente mais 12 meses para ganhar terreno nesta luta contra a pobreza e em defesa dos “Socialmente Vulneráveis”, começando pela redefinição das prioridades dos sectores sociais – Saúde, Educação e Protecção Social – no OGE. Até Dezembro, o Governo angolano estimava um crescimento da economia de 3,4% em 2018, como resultado principalmente da expansão do sector não petrolífero (4,4%), sendo estes cálculos muito mais optimistas do que as projecções do Fundo Monetário Internacional, que aponta para um crescimento de 1,5%. Independentemente de qual das estimativas mais se aproxima da realidade, o que é importante é que qualquer ganho da economia se reflicta no desenvolvimento social e humano dos angolanos, que ainda não é dos melhores, mesmo quando comparado com países africanos da região Austral.
Em 2018, o combate às assimetrias regionais e à pobreza deve merecer muito mais atenção e deixar de ser, em muitas circunstâncias, apenas um adorno de discurso político para merecer a simpatia das massas. Passado um ano, esta será a altura de começarmos a ver resultados na Bolsa de Solidariedade Social, que prevê reforçar o Banco de Alimentos e integrar o Banco de Medicamentos, Lojas Sociais e cozinhas comunitárias, como forma de minorar a vulnerabilidade social, em vez de vermos apenas acções paliativas.

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