Depois da reportagem feita em Abril de 2024, por ocasião da celebração dos 22 anos de Paz efectiva em Angola, a revista Economia & Mercado (E&M) voltou a visitar a famosa ‘montanha da Samba’, uma atípica porção de terra que ‘vê’ de perto a Assembleia Nacional e o Memorial António Agostinho Neto.
"As coisas aqui mudaram, mas para pior", inicia Domingos Baião, para quem a Paz conseguida em 2002 não ajuda a eliminar o peso da insegurança alimentar e das desigualdades, devido às condições sociais a que se submetem os moradores da 'montanha'.
Dificuldade no acesso à água e o crescente acúmulo de lixo em larga extensão (que denunciam fragilidades no saneamento) encabeçam a lista de reclamações onde a prostituição, alcoolismo, falta de espaço de recreação, de postos de saúde e de escolas públicas não ficam de fora.
De aproximadamente 40 anos de idade, Domingos conhece os problemas da 'montanha da Samba' há pouco mais de 18 anos, altura em que se 'mudou' para lá, juntamente com a família. "Conheço isso na palma das mãos. Já muitas coisas aconteceram por aqui. Apesar do tempo, as coisas aqui não melhoram", acrescenta o jovem que luta para não ver o filho a enfrentar a mesma realidade social.
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A fraca cobertura de energia eléctrica, que abre espaço para a prática do famoso ‘gato’ (luz transportada ilegalmente), é outro tema que entra na lista de reclamações. Esta última é apresentada por Alberto.
Nascido naquela atípica porção de terra, Alberto, estudante universitário e empreendedor, carrega no discurso um sentimento de medo e incerteza, próprio de quem diz ter avançado no plano individual, mas ter perdido os amigos de infância para o alcoolismo, a delinquência e a prostituição.
“Estamos a falar de qual paz? Para nós são só mais 365 dias da Paz que os outros vivem. Não temos condições para falar de paz”, acrescenta Alberto, revelando que, comparativamente ao ano anterior, a situação social na ‘montanha da Samba’ piorou.
À semelhança de Alberto e Domingos, mais jovens residentes na famosa 'montanha da Samba', manifestaram insatisfação pelas condições sociais. Foi o caso de Jorge e Raul, que diariamente descem do topo da montanha em busca da água para beber. Inês, que frequenta o ensino médio numa das escolas públicas instaladas ao lado do largo Primeiro de Maio, fala da desigualdade social, ainda que com outras palavras.
"Eu sinto vergonha de vir aqui com os meus colegas", explica a jovem de aproximadamente 17 anos.